Por Bruno Lyra
O novo governo de Renato Casagrande (PSB) só começa na próxima terça-feira (01) mas já tem uma grande polêmica na área ambiental. É que no último dia 21 de dezembro foi anunciado o nome do engenheiro mecânico Alaimar Fiuza para dirigir o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), órgão responsável pela emissão de licenças ambientais, fiscalização e gestão das reservas naturais sob gestão do Estado.
O problema é que Alaimar trabalhou mais de 30 anos na Vale. Lá ocupou cargos de gestão. A mineradora é a principal responsável pelo famigerado pó preto na Grande Vitória, sendo uma das maiores poluidoras não só do ES como também do país. Basta lembrar que a Vale é, ao lado da BHP Billiton, dona da Samarco, mineradora cujo rompimento da barragem em Mariana MG há três anos contaminou (e segue contaminando) o rio Doce e o litoral capixaba com rejeitos da mineração.
Não chega a ser surpresa que a Vale tenha um homem que já integrou seus quadros apitando na política ambiental do ES. Até porque o Iema funciona numa área que era da mineradora em Cariacica e foi cedida ao Estado. Mas que é ruim para a credibilidade dessa nova gestão Casagrande, ah, isso é. Como o Governo poderá ir vir à público dizer que trata de forma isonômica a Vale e demais empreendimentos causadores de impactos ambientais negativos?
Desde a década de 1980, a empresa acumula multas milionárias aplicadas pelo próprio estado e prefeituras de Vitória e Serra por poluição do Complexo de Tubarão. A Vale não paga os débitos, mesmo assim segue tendo suas licenças ambientais renovadas sem problemas.
Nos últimos anos o Estado foi muito generoso com a empresa. Concedeu licença para construção da 8ª usina em Tubarão em 2008, mesmo sob questionamentos do aumento de pó preto e das implicações disso para a saúde e patrimônio de terceiros.
O caso do rio Doce é emblemático. Quase nada das multas pagas, milhares de atingidos ainda sem receber reparações, processo criminal contra diretores suspenso, nenhum tipo de punição. Num momento em que a governança ambiental sofre duro ataque e deve ter retrocesso ainda maior na gestão Bolsonaro, a escolha de Alaimar desnuda o que se tentou dissimular nos últimos anos: primeiro o interesse do setor mínero-siderúrgico, depois a saúde e qualidade de vida dos capixabas.