Por Bruno Lyra
Não foi por falta de aviso que o Espírito Santo enfrentaria problemas com a falta d’água. Já na década de 1960, o cientista e ambientalista capixaba Augusto Ruschi (1915/1986) alertou para a desertificação do território capixaba. Ruschi, referência mundial na luta pela preservação ambiental, denunciou a destruição indiscriminada da mata Atlântica.
Ainda na década de 1960 e adentrando na de 1970, já sob o comando dos militares, foi feita a drenagem de grande parte das áreas brejosas do ES, terrenos acumuladores de águas da chuva. Grande parte disso foi executado por extinto órgão federal chamado paradoxalmente de Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOS).
Foram essas dragagens nos brejos das baixadas ao redor do Mestre Álvaro que ajudaram a piorar a secura gerada por esta mega estiagem que já dura três anos, redundando em incêndios sequenciais nas turfas; um grave problema ambiental e de saúde pública para a Serra e cidade vizinhas.
Na década de 2000, relatórios do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU confirmaram o que Ruschi havia prognosticado quatro décadas antes, alertando para aumento de temperatura e da sequência de dias secos nesta região do planeta, já como consequência do aquecimento global. Em novembro do ano passado um novo estudo, desta vez da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), apontou aumento de até 40 C da temperatura e redução de 20% nas chuvas nos municípios capixabas nos próximos cinquenta anos.
Pode ser que esta superseca que estamos atravessando seja sazonal e já tenha acontecido décadas atrás onde os registros eram mais precários. Tomara. Mas há fortes evidências de que seja este um novo padrão que pode ficar ainda mais hostil às atividades humanas nesta banda do planeta.
De uma forma ou de outra, melhorar a gestão das águas deve ser prioridade dos governos estadual e municipal. E também por parte do setor produtivo. Há bons sinais, o anúncio do Palácio Anchieta da construção de barragens no interior, incluindo uma represa gigante no rio Jucu para atender à Grande Vitória.
Não obstante os esforços para reduzir o consumo, Vale e Arcelor precisam avançar na reutilização do esgoto doméstico tratado, para não continuar sobrecarregando o quase seco rio Santa Maria. O governo precisa apoiar, com financiamentos, incentivos e qualificação, os agricultores para uma adesão em massa à irrigação por gotejamento. E ao reflorestamento para muito além dos programas atuais, que por enquanto só têm peso simbólico.
A maior consumidora individual de água do ES, a Fíbria, precisa aperfeiçoar as suas contrapartidas e apresentá-las de forma mais transparente, já que o insumo é indispensável à produção de celulose.
O tratamento de esgoto da Cesan e, na Serra, do consórcio Serra Ambiental, precisa melhorar e muito, porque até agora é um fiasco. Governos municipais têm de fazer leis obrigando prédios e casas a reservarem água de chuva. A nossa sorte que o ES é pouco habitado e ainda tem boa quantidade do precioso líquido. Mas isso está mudando.
