Por Bruno Lyra
O sistema educacional do município tem a despesa empenhada de R$ 384 milhões (2018), a maior dentre todos os setores da gestão pública da Serra, que por força da constituição é obrigada a investir pelo menos 25% de seu orçamento neste serviço prestado à sociedade. Tanto gasto não garante que o setor fique livre de problemas e desafios gigantescos.
Um deles, a qualidade do ensino. A formação intelectual que os alunos recebem é de fato eficiente para promover socialmente as pessoas numa cidade com 1/5 da população na linha da pobreza? Há de se considerar que o modelo escolar é velho, baseado num tempo em que não havia internet na palma da mão.
É problema crônico a qualificação do professor. Não é incomum alunos com acesso a internet e conhecimento adquirida em outros ambientes, desbancarem um professor em conteúdo. As deficiências na formação do docente tendem a ficar mais agudas quando esse profissional inicia a atuação nas escolas, pois para ter um rendimento proporcional a atividade que exerce, precisa trabalhar em dois ou três turnos. Sobra quase nada de tempo e energia para a necessária atualização. Aí talvez resida uma das causas da falta de interesse dos alunos pelas aulas.
Sem contar os falsos professores. Recentemente a Serra demitiu 300 deles por apresentarem diplomas fakes, forçando reposição de aulas. Nesse contexto, a função das escolas pode estar muito mais próxima do papel de segurança pública do que efetivamente da educação. Tira-se diariamente, por algumas horas, crianças e adolescentes das ruas.
Não é absurdo pensar que as escolas podem ter perdido o protagonismo da educação para outros espaços sociais: Igreja, esporte e, infelizmente, tráfico e banditismo. Salvo exceções, a escola é analógica, antiga. Até nos horários, que refletem um tempo onde a humanidade era muito mais dependente das leis da natureza. Na Câmara da Serra há até um projeto de lei para antecipar a entrada dos alunos de 7h para 6h e 15. Isso para que os pais possam chegar a tempo nos trabalho onde vão ganhar salários baixos em sua maioria.
Enquanto isso, uma das principais queixas dos empregadores, segue sendo a baixa qualificação da mão de obra. As deficiências do ensino público formal da Serra, que também ainda com a chaga da violência, estão longe de ser uma realidade só do município, se alastram pelo país. O ensino formal precisa de um novo modelo, senão ficará condenado a ser depósito de gente.