Por Bruno Lyra
O anúncio de que a Vale não irá fazer a ferrovia litorânea sul ligando a Grande Vitória ao município de Presidente Kennedy é mais um sinal do declínio do arranjo minero siderúrgico na região.
Se tal empreendimento fosse bom a Vale, suas parceiras investiriam nele independente da condicionante do Governo Federal de que a mineradora terá que fazer uma ferrovia entre Mato Grosso e Goiás para ter renovado a concessão da Vitória – Minas, linha férrea usada para escoar minério de ferro das serras mineiras para a planície capixaba, dentre outros usos secundários.
Outros sinais do declino estão postos. O estouro da barragem da Samarco (Vale + BHP) e o rompimento do mineroduto da Anglo American expõem a precarização da gestão. A incerteza do retorno do Samarco fortalece tal tese.
Há mais variáveis indicadoras do declínio. A Vale é detentora de outra estrada de ferro no ES, a Ferrovia Centro Atlântica (FCA), antiga Leopoldina. A via está abandonada, fazendo com que um dos clientes da Vale na logística, a Fíbria, voltasse a usar as perigosas e carretas bitrem para transportar eucalipto produzido nas regiões sul e serrana para a fábrica em Aracruz pelas BR´s 262 e 101.
Tudo ao mesmo tempo em que a Vale inaugura a maior mina de minério de ferro do mundo, na Serra dos Carajás, Pará, Amazônia. Lugar com menos gente e pressão social sobre os impactos. Sem contar as mudanças estruturais da economia mundial, que apontam para um índice maior de reciclagem das ligas metálicas em detrimento do uso de matérias primas virgens. Somado ao fato do uso cada vez mais intenso do plástico.
Variações de preço e concorrência no mercado internacional e até a estratosférica taxação pelos norte americanos também arrocham os cintos do setor.
A venda da mais antiga siderúrgica capixaba, a Cofavi (Companhia Siderúrgica de Vitória), pela gigante ArcelorMittal para um grupo menor, o mexicano Simec, é outra evidência. Ato contínuo a venda, a atual é Simec chegou a ficar com a produção paralisada por semanas.
Toda a estrutura portuária montada para atender ao complexo minero siderúrgico pode e deve ser a saída para a economia capixaba. Vocação iniciada em 1535, quando Vasco Fernandes Coutinho aportou por essas terras.