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Mestre Álvaro
Yuri Scardini é autor do livro 'Serra: a história de uma cidade' e escreve sobre política e economia

‘Nova oposição’ na Serra ameaça espaço ocupado por Pablo Muribeca

Pablo Muribeca, Agente Dias e Pastor Dinho: Na política, não há vácuo de poder. Crédito: Divulgação.

Embora tenha perdido a eleição para prefeito em 2024, Pablo Muribeca (Republicanos) teve um desempenho relativamente bom, chegando ao segundo turno e conquistando pouco mais de 90 mil votos. Na época, consolidou-se a ideia de que ele seria o ‘líder da oposição na Serra’. No entanto, com o avanço dos primeiros meses do ano, essa percepção não se confirmou. Pelo contrário, há um sentimento de que Muribeca ainda não se recuperou totalmente da derrota e está sendo ofuscado por um novo movimento de oposição, encabeçado por dois vereadores da Câmara Municipal da Serra.

Na política, não há vácuo de poder, e a Serra vive um momento de transição. As duas principais lideranças políticas da cidade, os ex-prefeitos Sergio Vidigal (PDT) e Audifax Barcelos (PP), deixaram o protagonismo da cena política, abrindo espaço para novos nomes. Atualmente, o maior expoente desse cenário é o prefeito Weverson Meireles (PDT), que tem assumido o centro das atenções.

No campo da oposição, quem começou com maior destaque não foi Pablo Muribeca, como se esperava, mas sim os vereadores Pastor Dinho e Agente Dias. Juntos, eles têm causado certo incômodo à gestão do prefeito Weverson Meireles. Em apenas um mês de mandato, os dois já realizaram pelo menos duas ações de grande repercussão nas redes sociais: uma blitz em um dos almoxarifados da Prefeitura e outra em uma unidade de saúde. Esses casos levantaram debates sobre os limites da atuação de parlamentares, questionando onde termina o direito à fiscalização e começam ações consideradas abusivas ou prejudiciais ao interesse público.

Independentemente da legalidade dessas ações, no âmbito político, fica evidente que ambos os vereadores estão adentrando um espaço que, até então, era dominado exclusivamente por Muribeca. Isso representa um risco real para o deputado, já que ele não é conhecido por entregas concretas ou projetos de grande impacto. Sua força reside, principalmente, no poder das narrativas construídas nas redes sociais. No entanto, pela tendência atual, essa influência digital não apenas será dividida, mas pior, corre o risco de ser superada por Dinho e Dias, que, cada um à sua maneira, são comunicadores eficientes dentro daquilo que propõe.

Além de dividir a narrativa oposicionista e promover ações no mínimo polêmicas, Pastor Dinho e Agente Dias estão situados no campo da direita, com ênfase no primeiro, segmento que tradicionalmente é simpático a Pablo Muribeca. Se isso já não fosse uma ameaça suficiente para Muribeca, ambos são cotados para serem candidatos a deputados nas próximas eleições. Se conseguirão articular campanhas sólidas é outra discussão, mas o potencial existe, já que são considerados “franco-atiradores” na política.

Pablo, por sua vez, concentra sua atuação quase que exclusivamente na Serra, o que representa um risco para qualquer deputado. Apostar todas as fichas em uma única cidade, mesmo que seja a Serra, é se colocar refém de uma eleição incerta. Afinal, diferentemente da campanha para prefeito, desta vez ele competirá com centenas de candidatos.

Outro ponto que pode prejudicar Muribeca é o fato de que, embora tenha sido bem votado, todas as pesquisas sérias publicadas destacaram sua alta rejeição. Votos podem se diluir, mas a rejeição do eleitorado é um problema complexo e de difícil superação. Enquanto isso, Dinho e Dias são como “páginas em branco”, prontas para serem preenchidas pelo eleitor. Além disso, Pablo perde uma narrativa que explorou com insistência: a de ser uma figura supostamente descolada do “sistema”.

A eleição mostrou ao eleitor justamente o contrário: que Muribeca é um político integrado ao sistema, embora do lado oposto ao poder dominante. Ainda assim, ele faz parte do mesmo sistema político que rege as relações no Brasil. Já Dinho, como pastor, e Dias, como guarda municipal, exercem funções reais fora da política, o que pode lhes conferir uma imagem mais autêntica perante o público.

No final de outubro, esta coluna propôs uma análise que contrariava a ideia de que Pablo “perdeu ganhando” a eleição. Algumas previsões vêm se confirmando, como o fato de Muribeca ter saído do processo eleitoral com pendências judiciais que ultrapassam milhões de reais — um problema que tende a se agravar — e a percepção de que ele teria que dividir espaço com novos entrantes em um cenário de renovação política.

Como um fenômeno das redes sociais, Pablo Muribeca baixou o tom e tem feito apenas críticas vagas ao prefeito Weverson Meireles, que assumiu o cargo recentemente. Um exemplo disso foi um vídeo de sua interação com a Alexa, assistente virtual, na qual teceu críticas aleatórias ao gestor. De qualquer forma, o foco principal é 2026, e Pablo não pode ficar sem mandato, especialmente diante dos problemas jurídicos e políticos em que se envolveu nos últimos anos.

Enquanto isso, Agente Dias e Pastor Dinho também têm ambições de chegar à Assembleia Legislativa. Eles não têm nada a perder ao disputar a eleição, já que, mesmo que não sejam eleitos, continuarão como vereadores. No mínimo, a campanha pode ampliar seu eleitorado cativo, fortalecendo suas bases para futuras disputas.

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