Por Bruno Lyra
A percepção mais geral da eleição aponta para confronto de extremos. De um lado, o totalitarismo de direita, cujo formato é o nazifascismo da Itália de Mussolini e a Alemanha de Hitler. De outro a esquerda com ditadura do proletariado, com exemplos no socialismo de governos como o da extinta União Soviética, Cuba, Coréia do Norte.
Esse é o dualismo clássico que a ideologia do confronto usa, jogando com os extremos. Óbvio que a realidade brasileira é muito mais complexa. Explicar a ascensão do Bolsonaro como retorno puro do nazifascismo é desconsiderar muita coisa. Assim como associar Haddad, o indicado do lulopetismo, ao totalitarismo de esquerda, soa falso.
De fato, parte do discurso de Bolsonaro e de parte de seus apoiadores remete à ideologia de Mussolini e Hitler. Mas há milhões de fãs do capitão reformado que votam nele pelo desejo legítimo de ter mais segurança, por acreditarem na caça aos corruptos e ao excesso de burocracia. Também são adeptos do conservadorismo religioso e querem o retorno de costumes que desbotaram nas últimas décadas.
Mas desejam fazer isto pelo voto, usando a ferramenta da democracia. Nem que seja preciso abrir mão de algumas liberdades individuais. Bolsonaro diz que joga no campo democrático. Mas há sinais dados por ele e seu vice, o General Mourão, de que o rompimento institucional é uma possibilidade.
Do outro lado, Haddad traz o que ficou do grupo liderado por Lula. Apesar do pendor autoritário à esquerda defendido historicamente por militantes neste campo, na prática o lulopetismo não levou o país ao socialismo. Tão pouco ao autoritarismo.
Combalido pelo fracasso do governo Dilma e pela condenação e prisão por corrupção, Lula e seus aliados são a vitrine predileta para a grande onda ‘moralizadora’ à direita. Não é caso isolado, tem acontecido em outros países.
E mais do que defender o legado petista, acabou caindo no colo de Haddad o anseio da parte dos brasileiros que quer garantir a liberdade. E dentro de um estado com rede protetiva para os mais pobres. É gente que também sofre com a violência urbana. Mas não crê na forma reducionista de combate ao problema, entendendo que também é preciso inclusão, cultura, trabalho e renda. Assim vai o Fla x Flu da política nacional.