Ver com a alma

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Um grupo de cegos se aproximou de mim na Bienal do Livro. Eles procuravam livros em braile. Eu respondi que infelizmente a feira não tinha nada em braile para oferecer. Ainda assim, uma moça entre eles resolveu se aproximar de mim e tocar meu livro. Como era pequeno, decidimos que eu poderia ler para ela.

Eu então li todo meu livro, ela adorou e fez vários comentários sobre sua compreensão e como poderia aplicar na realidade dela. Ela disse que lê mais de um livro por dia, também usa aplicativos e recursos de áudio para estar sempre aprendendo.

Depois que ela deixou o stand eu só conseguia chorar. Primeiro por me sentir honrada de compartilhar a minha obra com aquele ser humano maravilhoso, segundo porque me senti envergonhada por cada momento de preguiça, desleixo, reclamação, procrastinação.

Eu pensava estar sentada na cadeira de escritora e intelectual do evento, mas na verdade, aquela era minha cadeira de estudante. Uma vez eu escrevi que nós somos tolos por pensarmos que a visão provém apenas dos olhos.

Esse encontro foi a prova de que quem enxerga mesmo é o coração e de que deficiente é a sociedade que ainda não está preparada para lidar com essas pessoas, dando a elas o respeito, o conforto e o espaço que merecem. Deficiente é quem decide não aprender mais, mesmo podendo. Quem faz muito do pouco que tem, não pode ser considerado deficiente, mas sim um herói.

 

 

 

Foto de Gabriel Almeida

Gabriel Almeida

Jornalista há 11 anos, Gabriel Almeida é editor-chefe do Portal Tempo Novo. Atua diretamente na produção e curadoria do conteúdo, além de assinar reportagens sobre os principais acontecimentos da cidade da Serra e temas de interesse público estadual.

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