Quando o chefe dos índios temiminós Maracajá-guaçu e o padre jesuíta Brás Lourenço, em 1556, fundaram a Aldeia de Nossa Senhora da Conceição da Serra, registrava-se naquele momento o pontapé histórico para a criação de uma das maiores cidades do Brasil: a Serra.
Já se passaram 463 anos desde então, e a cidade que é umas mais antigas do Brasil pode se considerar jovem em termos de desenvolvimento urbano, que remonta aproximadamente 40 anos, principalmente com a implantação da CST, em 1983, quando o município tinha cerca de 100 mil habitantes.
Atualmente, figurando na 42º posição – dentre os 5.570 municípios do país no quesito população -, já somos mais de meio milhão de moradores. Apesar desse tamanho todo, a Serra ainda apresenta uma fragilidade de lideranças políticas em perspectiva estadual. E nesse intervalo de 2019-2020, um fato ainda mais curioso tem marcado a política local: o interesse eleitoral de políticos que, literalmente, não moram na Serra.
Começou com o deputado Amaro Neto (Republicanos), que em 2019 disse que “não descarta ser candidato a prefeito da Serra”. De lá para cá, foi esfriando e hoje não existem sinais dessa possibilidade. Nada no histórico político e pessoal de Amaro seria suficiente para legitimar uma candidatura por essas bandas, a não ser o oportunismo eleitoral.
Em seguida, o PSL, por meio do ex-deputado Carlos Manato, lançou o deputado estadual Torino Marques, que assim como Amaro, não reside na Serra e não tem histórico pessoal com o município. Entretanto, o partido também voltou atrás e já afastou essa possibilidade.
Agora, quem surge no horizonte é o deputado estadual Lorenzo Pazolini (sem partido), dessa vez ancorado pelo prefeito Audifax Barcelos (Rede), que tem feito uma caça em busca de um sucessor com viabilidade eleitoral, capaz de dar um ‘nó’ no mercado político.
Pazolini, que é morador de Vitória, disse que pela carreira profissional (como delegado) e afetiva (de acordo com ele, morou na Serra durante a infância), seria legítima uma candidatura na cidade.
É algo que precisa ser analisado. Assim como exposto acima, a Serra é muito grande e expressiva para que haja necessidade de importar candidatos. É certo que a falta de identidade por uma parte da população abre brecha para inconsistências. No entanto, é apequenar a maior cidade capixaba. Morar na Serra é, em absoluto, a mais básica condição moral para ser um prefeito.
Desencontros políticos são relativamente democráticos, mas no meio disso tem uma população que precisa enxergar nesse lugar um lar, que é a condição capaz de superar o ethos de despatriados que ainda pesa na Serra.