Vai longe a conivência entre os poderes a fim de aferir suas vantagens corporativas. O caso recente em que o Conselho Nacional de Justiça (crendo situar-se no olimpo), aprova e propõe o pagamento do vergonhoso auxílio moradia para juízes nas estâncias estaduais, federal, do trabalho e militar, mesmo residindo em moradas próprias; e estendido esse “direito” (pasmem) aos membros do ministério público (promotores e procuradores da justiça) e (pasmem mais ainda) aos excelentíssimos senhores conselheiros dos tribunais de contas.
A formação dessa verdadeira casta social não é de agora. São privilégios que percorreram a história da sociedade e permanecem ancorados nos modelos mentais que desafiam o processo civilizatório.O direito, quer dizer, o reconhecimento do direito enquanto mecanismo de justiça, seja para o indivíduo, à coletividade ou fazer jus ao direito difuso, é de quando os homens, já sapiens, resolveram abandonar as cavernas e interagir sobre quem pode o quê, nas relações que se iniciaram.
Coube a algum inteligente, mais interativo e persuasivo, indicar soluções, e, em razão disso, ser o mais respeitado e acreditado dentro do grupo. Pronto, nasceu o tal do juiz.Na mitologia grega esse papel foi exercido pelos representantes dos deuses. E foi assim que as democracias se estabeleceram desde a Grécia Aristotélica a Roma com seus senadores; com Pilatos que imortalizou o gesto do direito a escolha para em seguida lavar as mãos.
Mas foram as sociedades que viveram ao julgo do monarca que mais marcaram a figura e o estereótipo dos julgadores. Eles, os juízes, se posicionam nessa linha direta, vertical, vinda de cima e uníssona. Portanto, absoluta e longe de ser questionada.E por falar em direito, esse (famigerado) auxilio a moradia, alheio ao que pensa a sociedade, aparece assim, de pleno direito aos semideuses, mesmo que aos demais milhares de pobres mortais, esse mesmo direito, seja negado.