Semideuses de toga

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Vai longe a conivência entre os poderes a fim de aferir suas vantagens corporativas.  O caso recente em que o Conselho Nacional de Justiça (crendo situar-se no olimpo), aprova e propõe o pagamento do vergonhoso auxílio moradia para juízes nas estâncias estaduais, federal, do trabalho e militar, mesmo residindo em moradas próprias; e estendido esse “direito” (pasmem) aos membros do ministério público (promotores e procuradores da justiça) e (pasmem mais ainda) aos excelentíssimos senhores conselheiros dos tribunais de contas.

A formação dessa verdadeira casta social não é de agora. São privilégios que percorreram a história da sociedade e permanecem ancorados nos modelos mentais que desafiam o processo civilizatório.O direito, quer dizer, o reconhecimento do direito enquanto mecanismo de justiça, seja para o indivíduo, à coletividade ou fazer jus ao direito difuso, é de quando os homens, já sapiens, resolveram abandonar as cavernas e interagir sobre quem pode o quê, nas relações que se iniciaram.

Coube a algum inteligente, mais interativo e persuasivo, indicar soluções, e, em razão disso, ser o mais respeitado e acreditado dentro do grupo. Pronto, nasceu o tal do juiz.Na mitologia grega esse papel foi exercido pelos representantes dos deuses. E foi assim que as democracias se estabeleceram desde a Grécia Aristotélica a Roma com seus senadores; com Pilatos que imortalizou o gesto do direito a escolha para em seguida lavar as mãos.

Mas foram as sociedades que viveram ao julgo do monarca que mais marcaram a figura e o estereótipo dos julgadores. Eles, os juízes, se posicionam nessa linha direta, vertical, vinda de cima e uníssona. Portanto, absoluta e longe de ser questionada.E por falar em direito, esse (famigerado) auxilio a moradia, alheio ao que pensa a sociedade, aparece assim, de pleno direito aos semideuses, mesmo que aos demais milhares de pobres mortais, esse mesmo direito, seja negado.

 

 

Foto de Ana Paula Bonelli

Ana Paula Bonelli

Ana Paula Bonelli é repórter e chefe de redação do Jornal Tempo Novo, com 25 anos de atuação na equipe. Ao longo de sua trajetória, já contribuiu com diversas editorias do portal e hoje se destaca também à frente da coluna Divirta-se.

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