Por Bruno Lyra
O Carnaval é uma festa ancestral. Não há consenso entre estudiosos sobre a origem da festa – há quem defenda que tenha surgido na Mesopotâmia; outros apontam que apareceu depois, na civilização greco-romana. De fato, há consistente registro histórico da existência do Carnaval nos moldes parecidos com o que se celebra hoje já nos séculos XI e XII. Portanto, antes do surgimento do Brasil, em 1500.
Embora o Carnaval não seja brasileiro – ele também é efusivamente celebrado em alguns outros locais do planeta –, é difícil dissociá-lo da brasilidade. Como o futebol, está colado à nossa identidade cultural. Não exagera quem diz ser o Brasil o país do Carnaval.
É catarse. Festa apoteótica, na qual beleza, humor e liberdade se fundem e permitem aos foliões esquecerem as agruras do cotidiano. É lúdico. Plebeu vira rei. Nobre vira vassalo. Pessoas dos mais variados gêneros se libertam, brincam de ser o outro. Críticas políticas e sociais afloram.
Há, também, a dimensão religiosa, pois é festa pagã que antecede a Quaresma. Na Serra e nas ruas das outras cidades da Grande Vitória – assim como em praticamente todos os cantos do país onde há gente –, blocos saem às ruas. Escolas de samba desfilam enchendo as avenidas de som, cor, forma e movimentos belos. A Serra tem quatro escolas: Rosas de Ouro, Império de Fátima, Tradição Serrana e Mocidade Serrana.
Há os que não gostam da folia. Tudo bem. A festa é democrática, vai nela quem quer. Mas há de se lembrar que o Carnaval gera renda e trabalho no turismo, nos bares e restaurantes. Gera negócio para o vendedor de rua, para o músico e outros artistas da criação e feitura. Dá dinheiro, também, para quem hospeda os que aproveitam o feriado para o descanso ou retiros espirituais.
Por isso tudo, é preocupante que setores mais conservadores da sociedade venham fazendo discurso – amplificado pelas redes sociais – pedindo que o poder público não permita ou não apoie o Carnaval. De olho no voto dessa turma, políticos demagogos vêm anunciando que não farão a festa porque preferem investir dinheiro público em outras áreas.
Ora, cultura é tão importante quanto saúde, educação, assistência social, saneamento e infraestrutura. Se essa perseguição continuar, o Brasil vai mergulhar na tristeza de uma quarta-feira de cinzas típica de sociedades altamente oprimidas.