Mestre Álvaro
Yuri Scardini é autor do livro 'Serra: a história de uma cidade' e escreve sobre política e economia

O ‘novo’ Vidigal que fala em macroprojetos arrojados e crédito internacional

Vidigal Serra
 Crédito: Divulgação

Quando assumiu a Prefeitura da Serra pela primeira vez, em janeiro de 1997, o então prefeito Sergio Vidigal, médico de 39 anos, tinha um desafio: reverter a falência da Prefeitura da Serra. A plataforma de governo de Sergio Vidigal iniciou-se logo nos primeiros dias após a vitória nas urnas. A apuração do Jornal Tempo Novo em maio de 1997 revelou que a dívida total da Prefeitura no início daquele ano era de cerca de R$ 40 milhões, o que significava metade do orçamento daquele ano comprometido com o endividamento.

Eram cinco meses de salários atrasados, dívidas diversas com bancos, fornecedores, distribuidores e empreiteiros. A STA, então empresa que realizava limpeza pública, ameaçava romper contrato por falta de pagamento e, para piorar, o Governo Federal instituiu a Lei Complementar nº 87, no final de 1996, conhecida como Lei Kandir, que isentou do pagamento de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre as exportações de produtos primários e semielaborados, o que desonerou a carga tributária da antiga CST (atual ArcelorMittal) e mergulhou a Serra em mais uma crise de arrecadação.

Na época, os chamados marajás, um núcleo de servidores que instituíram uma máfia de supersalários, corroía por dentro o orçamento público. As medidas de Vidigal para acabar com esse esquema eram seguidas de episódios conturbados. No final do primeiro ano, as constantes ameaças de retaliações físicas a Vidigal e até boatos de explosão de bomba no prédio da Prefeitura o levaram a tomar medidas preventivas de segurança pessoal e na sede da Prefeitura.

As greves de médicos, professores e servidores públicos, que reivindicavam os justos pagamentos, promoviam uma desassistência dos serviços públicos que impactou várias camadas da população. Os cenários eram de caos absoluto. Desde então, foram quase 30 anos de medidas saneadoras, de austeridade e disciplina fiscais, projetos e programas sociais e planejamento de médio e longo prazo, somados à conjuntura estadual e nacional, conseguiriam impor ordem à bagunça e fizeram da Serra uma cidade estável para morar e investir, fiscalmente saudável e que consegue prover à população altamente dependente do poder público, serviços que vão desde o nascimento até o falecimento.

Aquele Vidigal se notabilizou pela disciplina fiscal e pelas características de gestão, que promoveu uma profissionalização do setor público da Serra, como organizador e condutor do desenvolvimento econômico e humano.

Em seu quarto mandato à frente da Prefeitura, que não precisa ser tão combativo quanto foi no passado, mas que carece de ainda mais disciplina fiscal, já que o crescimento populacional continua em ritmo acelerado, associado a uma arrecadação per capita baixa. Porém, uma nova característica vem sendo adotada pelo ‘novo’ Vidigal: o rodoviarismo.

Macroprojetos arrojados de infraestrutura rodoviária estão sendo planejados para a Serra, alguns são ideias antigas, mas que nunca aglutinaram as condições necessárias para execução, e outros são projetos novos. Tais projetos, somados ao Contorno do Mestre Álvaro e ao Contorno de Jacaraípe, ambos em execução, podem gerar um novo surto de desenvolvimento econômico na cidade.

O ‘novo’ Vidigal tem usado o microfone para defender o desenvolvimento rodoviário como alternativa para a expansão urbana, imobiliária e de novos negócios e empregos. Embora, ao longo de sua trajetória, o prefeito tenha executado muitas obras de infraestrutura rodoviária, parece que houve uma virada de chave direcionada aos macroprojetos, daqueles que têm potencial de dar novos impulsos à cidade.

Nesta semana, ele anunciou a intenção da prefeitura contrair crédito junto a uma instituição bancária internacional, que fornece as melhores condições de taxas e carência de pagamento, para execução de obras rodoviárias. A mais destacada delas é a terceira estrada ligando Serra e Vitória, passando por dentro do Complexo de Tubarão, que, se vier a ser executada e entregue, dinamizará o litoral sul da Serra.

Esse não é um projeto necessariamente novo, na verdade, ele foi listado entre os investimentos necessários durante os estudos de ampliação que foram feitos na CST em 2003, quando a siderúrgica implantou o Heat Recovery. O assunto permaneceu na planície do debate público, até que Vidigal voltou a mexer com ele nestes últimos dias, entretanto, em uma articulação já avançada com a Vale para doação das áreas que a estrada vai passar, e o projeto no bojo do empréstimo internacional que será pleiteado.

A terceira estrada ligando Serra e Vitória pode dar outro dinamismo urbano para as duas cidades, já que a BR-101 (com o traçado atual) é uma obra de 1970, enquanto a Norte Sul é da década de 1980. De lá para cá, o crescimento populacional não cessou na Serra.

Porém, o ‘novo’ Vidigal não se restringe a isso. Anteriormente, o prefeito apresentou também o plano de transformar a atual BR-101 em uma via expressa, no modelo das Freeway americanas. O projeto depende da municipalização da rodovia, que só virá a ocorrer com a entrega do Contorno do Mestre Álvaro. Outros projetos também foram pensados, como a Variante de São Domingos e o Binário da Norte-Sul (em execução).

Nesta semana, Vidigal também anunciou a ampliação do trecho em pista simples da Avenida do Civit I, que conecta a rotatória de Maringá com a BR-101. Durante o evento, Vidigal prestou mais informações a respeito do empréstimo internacional, que vai contemplar uma avenida ligando os fundos do CIVIT II com a BR-101, passando pelo bairro Taquara, para eliminar o trânsito de caminhões pesados de dentro da malha urbana da Grande Laranjeiras. O terceiro projeto seria o viaduto no entroncamento da Avenida Eldes com a BR-101, na entrada de Laranjeiras.

Na prática, são todos projetos com altíssima capacidade de gerar benefícios para a economia da Serra, tanto na melhoria das áreas já ocupadas, além da criação de novas áreas de ocupação urbana e empresarial. Somados aos contornos do Mestre Álvaro (obra federal) e Jacaraípe (obra estadual), temos, portanto, um novo surto rodoviário que pode definitivamente criar outra Serra a médio e longo prazo. Associado a isso, foi pensado um novo Plano Diretor Urbano (PDU) que modernizou a ocupação racional do espaço.

Embora fundamental, o PDU não é necessariamente uma novidade nas gestões de Vidigal, haja vista que o primeiro PDU feito por ele ocorreu em 1998, que aprimorou o primeiro PDU da Serra, implantado parcialmente em 1996. O que tem de novo neste ‘novo’ Vidigal é a mentalidade rodoviarista dos macroprojetos, papel que na literatura política da Serra pertenceu ao ex-prefeito João Batista da Motta, embora tenha contrastado com a acentuada negligência administrativa, da qual Vidigal – e posteriormente o ex-prefeito Audifax Barcelos – organizou, modernizou e profissionalizou.

O ‘novo’ Vidigal está com um olhar futurista para a Serra e entende que o maior desafio para a Serra é seu próprio crescimento. O empréstimo internacional é resultado disso, já que, se ocorrer, será o primeiro da história da Serra. Embora já se registrem algumas críticas em torno do empréstimo, dados do Tribunal de Contas revelam que a Prefeitura tem plena condição financeira de tomar o empréstimo. Além disso, Vidigal tem defendido que créditos destinados a obras de infraestrutura acabam por se pagar, já que tais projetos acarretam aumento de receita arrecadada.

O desafio do prefeito é conseguir romper as complexas dificuldades que envolvem projetos dessa natureza e concretizá-los. Obras assim eventualmente são mal compreendidas e mal recebidas pela comunidade, veja por exemplo a Norte-Sul, que na época da implantação sofreu intensa oposição dos moradores de Laranjeiras. Além disso, em alguns casos, demoram décadas, como o Contorno do Mestre Álvaro, que começou a ser debatido na década de 1980 e só veio a ser concretizado nos dias de hoje.

São obras e projetos que enfrentam múltiplos desafios ao longo de anos, mas que precisam começar de algum lugar, e aparentemente, têm encontrado no ‘novo’ Vidigal uma semente para germinar. A própria Secretária de Obras está passando por um momento de revitalização, em que fez ascender a jovem engenheira Isabela Biancardi, de 28 anos, não só a primeira mulher a assumir o cargo, mas também a pessoa mais jovem a exercê-lo.

Este é o momento mais propício para debater e executar um novo ciclo de projetos de infraestrutura viária, já que o Espírito Santo e a Prefeitura da Serra estão saneados com boas reservas de capitais e organizados, tanto fiscalmente quanto com planejamento público, diferente do passado, especialmente no início de 1990, em que o surto de obras mottista, apesar de ter promovido resultados de longo prazo, ajudou a mergulhar a Serra em crise financeira.

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