Bruno Lyra
Em tempo de tantas mitologias e mitos no país, uma lenda urbana forte é a de que o Brasil começa o ano após o carnaval. Se é isso mesmo, então está na hora de fazer muitas tarefas de casa na frente ambiental.
Uma delas em relação a essas queimadas que prejudicam ainda mais a já castigada saúde respiratória do morador da Serra e de cidades vizinhas. Em uma semana, foram registrados incêndios em área de turfa na Serra, Aracruz e Guarapari. Também houve registros de fogo em áreas de vegetação. Tais situações estão ficando recorrentes e tendem a se agravar com o avanço sem planejamento da urbanização e o aquecimento global.
Outra tarefa é com a Petrobras. A empresa tem que ser mais clara sobre a deposição de lixo radioativo na área do TIMS. O caso só veio a público após o incêndio que atingiu 942 tambores de 200 kg contendo a substância, no dia 28 de janeiro. E ainda não há respostas sobre a contaminação que isso pode ter gerado.
Também precisa fazer o seu dever a Suzano, que comprou a Fibria (ex-Aracruz Celulose). Dona de quase 9% do território da Serra, onde usa os terrenos para plantio de eucalipto em escala industrial, a empresa precisa explicar para a cidade os seus planos. Até porque já são conhecidos os impactos ambientais da monocultura de eucalipto, que inclusive recebem pulverização aérea de agrotóxicos.
Tem ainda a Statkraft, empresa que comprou da EDP as barragens de Rio Bonito e Suíça no rio Santa Maria de Vitória, manancial que abastece e deságua na Serra. É preciso mais clareza sobre as consequências de um eventual rompimento dos reservatórios e a respeito do controle das estruturas.
Do Complexo de Tubarão (Vale e ArcelorMittal), espera-se que as anunciadas obras para reduzir o pó preto cumpram seu objetivo e que não sejam uma expansão produtiva velada. A Arcelor já garantiu que não será expansão.
E o que não dizer da tragédia do saneamento com o esgoto sob responsabilidade da Cesan e o seu puxadinho, a Ambiental Serra.
Outra tarefa, talvez ainda mais complexa que as anteriores, é a da gestão pública e privada para a redução no calor das cidades. Médicos têm alertado para o aumento de risco de morte, sobretudo para pessoas debilitadas e/ou portadoras de doenças cardiovasculares.
O difícil é imaginar que todas essas iniciativas aconteçam na gestão de um presidente que foi eleito apontando a preservação ambiental como vilã. Se a sociedade não reagir, o prejuízo vai aumentar.