Por Bruno Lyra
A cada dia arrebenta uma “barragem” de minério na Grande Vitória. Só que na atmosfera. O ar repleto de pó preto, gases siderúrgicos, gera tragédia mais sutil, mas não menos nociva: doenças respiratórias crônicas que podem estar matando aos poucos milhares de capixabas.
Neste janeiro (mais um!) atipicamente seco e ainda mais quente que o normal, a fumaça das queimadas está mais nociva. E, para piorar, se somou à fumaça negra do incêndio na área da Petrobrás no TIMS, local em que há armazenamento até de material radioativo. As aspersões de agrotóxicos com aviões nas plantações da Suzano (ex- Aracruz Celulose e ex-Fíbria), fato que também ocorre nos mais de 5 mil hectares de plantações no município, completam o quadro de desleixo ambiental por parte de indústrias gigantes.
Tamanha crise ambiental e de saúde pública não comove os governantes. Pelo contrário. É notório, nos últimos anos, o desmanche da legislação ambiental e dos órgãos responsáveis pela fiscalização.
Tanto que o novo governo federal foi eleito com discurso de que proteção ambiental atrapalha o desenvolvimento. O que encontrou eco em parte da elite financeira e produtiva, que viu janela de oportunidade para maiores ganhos reduzindo custos do que chamam de externalidades. Está mais forte a ideologia do que preservação do meio ambiente que é obstáculo para o crescimento econômico.
Do presidente da República e seus correligionários, não faltam afirmações de satanização a órgãos como Ibama, ICMbio e similares. E de ataques às políticas de demarcação de terras indígenas, áreas que além da preservação cultural e humanitária, são notórias conservadoras de floresta, biodiversidade e água.
Falácias que não se sustentam. Tanto que o chefe do executivo nacional diz, num dia, aos maiores investidores do planeta, que o Brasil é referência mundial no cuidado com a natureza. E no outro dia estoura a barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho, a segunda em três anos.
Enquanto isso, o novo governo do ES escala um ex-diretor da Vale para presidir o Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema). Governo este que, na gestão passada, reduziu a proteção do Mestre Álvaro com aval da Prefeitura da Serra.