Bruno Lyra
No próximo dia 05 de agosto completam mil dias do rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco (Vale + BHP Billiton) em Mariana, Minas Gerais. Foram 19 mortes, Bento Rodrigues destruída, 324 hectares de mata Atlântica devastados, contaminação por metais pesados e assoreamento do rio Doce e poluição do oceano Atlântico de Abrolhos (Bahia) a Arraial do Cabo (Rio de Janeiro).
As ações de reparação até agora são pífias. E a impunidade aos responsáveis um exemplo de injustiça. Vide o calote da Samarco e suas controladoras Vale e BHP às multas ambientais.
O impacto econômico vai muito além dos pescadores, agricultores e moradores das cidades que dependem do rio. Chega à saúde de quem continua bebendo água do rio ou consumindo alimentos do rio e do enorme trecho marítimo afetado.
E vai mais longe. Há dano gigantesco pouco mensurado na economia mineira e capixaba. Pior para o Espírito Santo que, diferente do seu vizinho, não tem economia diversificada. É mais dependente do arranjo mínero-siderúrgico. Por isso a paralisação da siderurgia e da exportação de pelotas de minério de ferro na usina e porto da Samarco em Anchieta é tão desastrosa.
Não foi à toa que o PIB capixaba caiu 12,2 % em 2016, contra um recuo nacional de 3,6 %, mesmo com o país em crise brava. Fornecedores de bens e serviços da Samarco ficaram a ver navios. Até na Serra houve perda de1 mil empregos e a cessão de R$ 300 milhões em negócios/ano. Em alguns municípios do sul capixaba o cenário foi pior.
Um efeito cascata, que chegou a Fíbria, que depende da água do Doce para fazer celulose. O caso da barragem da Samarco e o vazamento do mineroduto da Anglo American em março de 2018, também em Minas, podem ser sinais de desinvestimento do arranjo minero siderúrgico na região Sudeste.
Cabe ao ES se preparar para reinventar sua economia. Toda a infraestrutura portuária e ferroviária hoje usada pela siderurgia é o maior trunfo capixaba. Por sua posição geográfica, o estado tem que amplificar o corredor de exportação do agronegócio do Brasil central (Minas, Goiás e Mato Grosso) e importação para o enorme mercado consumidor dessa região.