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Imagens aéreas revelam extensão da destruição nas nascentes de rio que abastece a Serra

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Quem passa na estrada principal do circuito Caravaggio, em Santa Teresa, onde nasce o rio Reis Magos, que abastece a Serra, já consegue notar desmatamento da Mata Atlântica, cortes nos morros, aterros, solo exposto, nascentes e margens de córregos arruinadas por tratores. A maioria dessas intervenções –  senão todas – para parcelamento de terrenos rurais visando a venda de sítios, chácaras e lotes.

Imagens captadas no último dia 25 mostram dimensão dos estragos numa das nascentes do rio Reis Magos, localizada no famoso circuita Caravaggio em Santa Teresa. Foto: Reprodução de vídeo/O.Cruz

Mas do alto é possível perceber que os estragos vão muito além. Na última segunda-feira (25), o site Convergente, em parceria com o Tempo Novo, produziu imagens aéreas da região, revelando que a especulação imobiliária, a despeito do benefício econômico que gera para alguns, ameaça a água que abastece a Serra, a água da própria cidade de Santa Teresa e o frágil equilíbrio ambiental que dá o status de “Doce Terra dos Colibris” ao município das montanhas. Equilíbrio que inclusive é, ao lado da cultura local, razão de Santa Teresa ser um dos principais destinos turísticos das montanhas capixabas.

Confira abaixo:

Tal como ocorreu na visita anterior da reportagem ao Caravaggio, no último dia 07 de abril, as águas do córrego São Lourenço, fomadora dos rios Timbuí e Reis Magos, estavam cheias de barro. Mesmo sem chuva no momento. O córrego forma a cachoeira mais visitada de Santa Teresa, a do Country Club. Queda d’água que está no interior do Parque Natural Municipal de São Lourenço, uma unidade de conservação de proteção integral. Um pouco mais abaixo, está um dos pontos de captação de água que a Cesan faz para abastecer o centro da cidade.

Licença para “atividades agropecuárias”  

Além da dimensão dos estragos ao meio ambiente, também chama atenção algumas placas, dispostas ao longo da estrada até às proximidades da rampa de voo livre, indicando que as atividades são licenciadas.

Placas encontradas em dois pontos ao longo do Caravaggio indicando dispensa de licenciamento ambiental por se tratar de “atividade agropecuária. Fotos: Bruno Lyra 25/04/22

As autorizações, em benefício de particulares, sendo eles alguns empresários e corretores imobiliários conhecidos em Santa Teresa, foram emitidas pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Em algumas dessas placas há a informação de que a atividade é beneficiada pela dispensa de licencimento ambiental, desde que a obra seja exclusivamente para “terraplanagem executada no interior da propriedade rural e com objetivo agropecuário, inclusive carreador”.

Mas o que se vê, além de parcelamentos em áreas inferiores a 30 mil m2, mínimo exigido por lei em área rural, são cortes rasos de mata Atlântica com uso de trator. E mais: destruição de brejos de altitude, nascentes e córregos, que são Áreas de Preservação Permanente (APP´s), para implantação de lagoas artificiais cercadas por gramas de espécies não nativas da Mata Atlântica. E, claro, platôs para construção de casas. Algumas já tão próximas umas às outras que vão dando à paisagem configuração de área urbana.

Água de beber e produzir comida

Além do já citado abastecimento do centro urnano de Santa Teresa, as águas do Caravaggio formam o rio Reis Magos. Este abastece cerca de 150 mil moradores na região da Serra Sede e entorno. Sem contar que tais águas, servem para irrigação da produção de alimento nas propriedades rurais.

Exposição de talude, lençol freático e destruição da mata ciliar do córrego São Lourenço. Foto: Bruno Lyra 07/04/22

A devastação na região do Caravaggio também está prejudicando águas da bacia do rio Santa Maria do Doce, precisamente no trecho entre a subida da rampa de voo livre e a igrejinha. É bom lembrar que o Santa Maria do Doce é fundamental no abastecimento dos distritos, comunidades rurais e das extensas áreas de lavouras e pecuária nas terras baixas de Santa Teresa, principal porção produtora de alimentos do município. Essa mesma bacia é reponsável pelo abastecimento de água do município de São Roque do Canaã.

Desertificação  

A bacia do Santa Maria do Doce é uma das que mais sofrem com o processo de desertificação no Espírito Santo. Tanto que em épocas de estiagem prolongada, acirram-se conflitos pelo uso da água para irrigação de lavouras. E não raro falta água até para abastecer as casas das comunidades do famoso Vale do Canaã e adjacências. Vide o que ocorreu no centro de São Roque do Canaã durante a superseca do biênio 2015/2016.

Nascente do rio Santa Maria do Doce revirada e com mata ciliar arrancada perto da igrejinha do Caravaggio. Foto: Bruno Lyra 07/04/22

Situação pode atrapalhar agroturismo, avalia empresário

Empreendedor e referência no agroturimo de Santa Teresa, o professor aposentado José Alfredo Ferrari, disse, no último dia 07 de abril, que falta de critério e controle na ocupação por sítios e chácaras no Caravaggio, que é uma zona rural. Professor Ferrari é proprietário da Pousada Sítio Canaã, uma das primeiras da região, onde preserva fragmentos de mata Atântica e lagoas cercadas de florestas que ajudam a proteger a água da região. Por causa das interveções, essas lagoas, outrora de águas limpas, estavam cheias de barro no dia 07 de abril. E continuavam barrentas no último dia 25, mesmo sem chuva naquela data.

Assoreamento do córrego São Lourenço, formador do rio Timbuí e Reis Magos. Foto: Bruno Lyra 07/04/22

Dinho Gregório, um dos administradores da piscina natural formada pela cachoeira do Country Club, reclamou do excesso de barro, situação que deixou a piscina irreconhecível, com a água bastante suja.

Nos comentários da postagem que Gregório fez numa rede social sobre a situação, moradores do município se queixaram que os órgãos ambientais constumam ser rigorosos com pequenos produtores rurais, mas complacentes com os responsáveis pelas terraplanagens de grande porte e loteamentos feitos no Caravaggio.

Falta manejo de fauna, sobra ameaça de extinção e deputado aciona a Polícia

Ambientalista da ONG Juntos SOS ES Ambiental, Eraylton Moreschi, considera muito grave o que ocorre no Caravaggio. Segundo ele, o município autorizou algumas terraplanagens que geraram desmatamento na região. Porém, não houve emissão de autorização de manejo de fauna silvestre, conforme a própria Prefeitura admitiu à ONG em resposta solicitada através da Ouvidoria.

A autorização do manejo de fauna orienta o licenciado sobre o que fazer e para onde levar os bichos selvagens encontrados durante as obras. O objetivo é reduzir ao máximo a mortandade dos animais, alguns deles ameaçados de extinção. A ausência dessa autorização, segundo Eraylton, é ilegal. Por conta disso, a Juntos SOS ES Ambiental formalizou, no último dia 08,  denúncia ao Ministério Público Estadual.

E a degradação no Caravaggio também repercutiu na Assembléia Legislativa. Também no dia 08, o deputado Sérgio Majeski (PSDB) protocou denúncia junto ao Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) para que faça um pente fino no Caravaggio. Até o momento da publicação dessa matéria, ainda não havia informação sobre a ação do BPMA na região.

Deputado Sérgio Majeski acionou a Polícia Ambiental para averiguar a degradação na região. Foto: Divulgação/Ales/Ellen Campanharo

Presidente do Instituto Brasileiro de Fauna e Flora (Ibraff), Claudiney Rocha, disse que na região montanhosa de Santa Teresa há espécies da mata Atlântica criticamente ameaçadas de extinção. Para ele, o que ocorre no Caravaggio e em outros pontos pode ser a pá de cal na existência de algumas delas.

“É o caso da saíra apunhalada, passarinho raro que ocorre na Reserva Biológica Augusto Ruschi e outras áreas de proteção em Santa Teresa, como o Parque São Lourenço, no Caravaggio. As matas que estão sendo destruídas por essa ganância desenfreada no Caravaggio servem de corredor ecológico para a saíra e outros animais ameaçados. Sem contar as novas espécies que estão sendo descobertas na região e já podem sumir. Tem o exemplo do pequeno anfíbio, uma perereca, batizada de Pixinguinha, catalogada pelos pesquisadores do Instituto Nacional da Mata Atlântica, em Santa Teresa”, pontua.

Claudiney cobra dos orgãos ambientais estaduais, como o Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) e o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), além dos Ministérios Públicos Estadual e Federal mais fiscalização e controle sobre o que ocorre no Caravaggio.

Prefeitura e órgãos ambientais em silêncio

Desde o dia 07 de abril a reportagem tenta um posicionamento da Prefeitura de Santa Teresa sobre a situação. E desde o dia 08, do Iema e do Idaf. Por equanto, a única manifestação foi da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), que informou que irá avaliar o caso em conjunto com outros órgãos ambientais.

Pelo menos desde o final de 2020 a degradação no Caravaggio é de conhecimento público. Na ocasião, o então prefeito de Santa Teresa, Gílson Amaro (falecido em 2021), pediu ajuda de órgãos estaduais e federais para tentar conter a destruição. Situação que foi repercutida em todo estado pela imprensa.

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