Nas últimas semanas, moradores da região de Serra Sede e entorno vêm reclamando do gosto, do cheiro e da cor estranhos da água fornecida pela Cesan. Há, inclusive, diversas denúncias de problemas de saúde em moradores da região que consumiram o líquido. Desde o final de 2017, essa porção da cidade – que abrange cerca de 150 mil habitantes – é atendida pelo sistema do rio Reis Magos, construído pelo último governo Paulo Hartung.
No planejamento de longo prazo, esse sistema estava previsto para 2020, mas foi antecipado por conta da severa seca que castigou o Espírito Santo no triênio 2014 – 2016. Estiagem que colapsou o sistema do rio Santa Maria, fornecedor de água para Serra, Praia Grande (Fundão), zona norte de Vitória e Complexo Industrial de Tubarão (Vale e ArcelorMittal), maior consumidor individual do manancial.
Num contexto em que chegou a faltar água do Santa Maria até para o rodízio em bairros da Serra, antecipar a construção do sistema Reis Magos soou como ato de competência do então governo estadual diante de grave crise da água.
Mas se for confirmado que o gosto salobro e as demais anomalias na água que chega hoje às torneiras são resultados do avanço do mar sobre o rio Reis Magos, misturada à própria fragilidade desse manancial – além de ter porte pequeno, o rio é poluído -, o ato do governo de Paulo Hartung terá sido de irresponsabilidade.
Isso porque tão logo ficou definido o ponto de captação das águas em Putiri, zona rural da Serra, agricultores e pecuaristas da região alertaram que o local era inadequado, pois está sujeito ao avanço do mar em épocas de estiagem, quando o rio perde força. Mar que fica a 13 km abaixo, em Nova Almeida.
Esse aviso foi em 2016, antes de as obras começarem, e foi capa da edição impressa do TEMPO NOVO. Agora, em 2019, o estado volta a enfrentar a seca e o Reis Magos – assim como boa parte dos rios do planeta – só tem sua condição piorada nos últimos anos. Recebe esgoto de áreas urbanas e rurais de Santa Teresa e Fundão.
E ainda tem uma fábrica de rações em suas margens, ao lado da ponte da BR 101 em Timbuí. O sistema de água em Putiri custou R$ 70 milhões aos capixabas e pode ter sido um erro do Governo Hartung. E é lamentável a Cesan, até agora, não vir a público explicar o que está acontecendo e nem o sistema da vigilância da Prefeitura (Vigiágua) ter ainda uma resposta.