Bruno Lyra
Esta é a eleição mais polarizada desde a redemocratização do país, em 1985. E graças à capilaridade das redes sociais, é também a que mais tem mexido no cotidiano das pessoas. Tem gerado conflito entre familiares. Entre amigos que poucas semanas atrás riam juntos. O que dirá entre desconhecidos.
O debate foi sequestrado. Deu lugar à virulência do discurso cego detratando o oponente. Confrontos que ocorrem na internet e já ganharam as ruas em forma de agressões e até assassinato. Basta ver os crimes cometidos por conta do ódio político, amplamente noticiados por veículos tradicionais de imprensa.
As coordenações das duas campanhas, até por marketing eleitoral, apostam na narrativa do medo. A campanha de Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas e franco favorito, ataca o adversário Fernando Haddad (PT) chamando o de corrupto, de novo poste do Lula, de ser condescendente com a criminalidade nas ruas, de querer implantar o socialismo no Brasil.
A campanha do petista taxa Bolsonaro de fascista por falas contra minorias e contra a proteção ambiental, de flertar com a ditadura por ser uma chapa de militares – Bolsonaro é capitão reformado do Exército, e seu vice, é o General Mourão.
Em 13 anos de governo, o PT não implantou o socialismo no Brasil. E nem há qualquer proposta nessa direção no programa de Haddad, embora a ênfase continue sendo a transferência de renda para a população mais pobre. A crítica de ser o novo poste de Lula, procede. Quanto à corrupção, ela atinge em cheio o PT. Mas se estende a praticamente todos os partidos do país. E transpassa para o Judiciário, outras instituições da República, entra na iniciativa privada e na vida cotidiana.
Chega inclusive aos políticos e partidos que caminham (ou já caminharam) com Bolsonaro, que ainda tem ao seu lado controversos líderes de impérios religiosos que fizeram fortuna e cada vez mais ampliam seu poder – inclusive midiático – no Brasil.
Já as preocupações sobre a respeito do fascismo e tendência à autocracia em Bolsonaro se justificam pelas falas e tom agressivo do candidato e seus apoiadores. Que atacam inclusive o sistema eleitoral. E se agravam pela negativa de Bolsonaro em ir a debates ao mesmo tempo em que dá entrevistas e faz agendas externas de campanha. Tudo isso em meio à enxurrada de notícias falsas na internet que, em boa parte, favorecem o capitão.
Será que essa instabilidade que sacode o Brasil perdura e até piora após 28 de outubro? Ou será que teremos um final feliz?