Bruno Lyra
Se o brasileiro já padece de um antropológico complexo de vira-lata, o que dizer do capixaba que foi ao estádio Kléber Andrade no último dia 20 e vaiou ruidosamente o time do Serra no jogo contra o Vasco pela Copa do Brasil? Seria uma espécie de complexo de vira-lata ao quadrado?
O goleiro do tricolor serrano, Walter, reclamou publicamente, e com razão, da postura dos capixabas. Que simplesmente foram em peso apoiar o milionário Vasco, pagando R$ 140 no ingresso para entrar num estádio construído com dinheiro público. Preço que não é normal nem em finais no Maracanã.
Esse mesmo capixaba não tem coragem de dar R$ 20 para ver o Serra, Rio Branco, Vitória, Desportiva, Estrela, São Mateus, entre outros sofridos clubes locais. Não é normal a torcida local desprezar o time da casa e ovacionar o alienígena. E isto longe de ser uma questão xenofóbica; mas simplesmente de apoio ao desporto e desenvolvimento humano local.
É triste constatar que mesmo em estados onde o nível técnico do futebol é frágil como o do ES, nota-se mais apoio às agremiações da casa. Nesse sentido, o Serra foi exitoso em ter conseguido jogar essa partida e perder apenas por 2 x 0 de um time que, além de mídia espontânea nacional diária (e capixaba também), recebe uma gorda cota de TV.
O futebol é um dos símbolos da cultura nacional. A forma como a grande maioria dos capixabas trata os times locais revela problema de identidade cultural. Coisa que pode ser notada até no desfile das escolas de samba espírito-santenses, antecipado em uma semana para não ser esvaziado pelo público local, mais interessado em Beija-Flores, Mangueiras, Portelas e congêneres.
O problema identitário talvez seja uma das explicações para o nanismo político do Espírito Santo. As lideranças capixabas não conseguem nem mesmo que as indústrias gigantes e poluidoras, que muito levam e pouco deixam aqui, deem substancial apoio não só a times de futebol, como também ao desporto capixaba em geral.
Por hora, resta o desabafo do goleiro Walter e a tenacidade dos ‘gatos pingados’ que topam vestir a camisa dos times locais e levar adiante a bandeira do Espírito Santo. Estes não são vira-latas.