Por Bruno Lyra
Se o aumento da tarifa para importação do aço nos EUA de 2% para 25%, tocado pelo presidente Donald Trump, já é desastroso para o Espírito Santo, imagine para a Serra. A medida ainda pode ser revertida pela diplomacia brasileira, mas tem grande chance de colar. E se isso acontecer atinge em cheio a gigante ArcelorMittal Tubarão, uma das maiores empresas que atuam no Estado e a maior, junto com a Vale, no município.
O caso é tão grave que o governador Paulo Hartung (MDB) até enviou uma carta ao ministério da Indústria, Comércio Exterior Serviços. Das placas de aço produzidas pela Arcelor, 40% vão para os EUA. Das bobinas, 10%. A empresa gera 6.365 empregos diretos e 50 mil indiretos, considerando aí sua cadeia de abastecimento. Os números estão na carta de Hartung.
Um estudo encomendado pela Arcelor e publicado ano passado diz que a unidade de Tubarão e a rede de fornecedores que aciona, movimenta em média 12,6% do PIB capixaba. Do PIB da Serra, 56% (dado em relação a 2014). Em outras palavras, mais da metade da riqueza da cidade está ligada a produção de aço.
O pior é que na cadeia de fornecedores da Arcelor que será atingida, está a Vale. Ela fornece o minério de ferro usada pela siderúrgica vizinha. Embora os portos e unidades fabris da Vale hoje sejam tributados em Vitória, a empresa também tem gigantesca influência na economia da Serra. A Vale é a maior empregadora privada do ES, seguida pela Arcelor, segundo ranking da Federação das Indústrias (Findes) local.
A taxação do aço é mais uma pancada no cambaleante Espírito Santo, que nos últimos anos já perdeu o ICMS Fundap e boa parte dos royalties do petróleo. Sofreu a superseca (2014-2016), a paralisação da Samarco (Vale + BHP) e a contaminação do rio Doce e do mar pela lama da mineradora. Isso num contexto de forte crise econômica e política no país.
Em 2016 a economia capixaba recuou assombrosos 9,3%. No Brasil a retração foi de 3,6%. O Espírito Santo – principalmente a Serra que é sua locomotiva econômica – está aprendendo de forma amarga que a dependência em relação a gigantes do arranjo minero siderúrgico é problemática. A taxação de Trump sobre o aço entra em vigor no próximo dia 23 de março.