Na tarde do último dia 15/11, em Goiânia, um homem armado atirou contra um rapaz de 20 anos que estava sentado em uma calçada. Após uma rápida discussão, o homem de 60 anos tirou a vida do estudante e depois atentou contra a própria vida, com um tiro na cabeça.
A história já é deveras trágica. Duas pessoas perdem suas vidas após uma discussão. Pessoalmente, qualquer tipo de morte de seres humanos que não seja causada por fatores naturais me causa reflexões sobre os fundamentos de nossa vida em sociedade. Entretanto, ao ler o relato em seus detalhes, a história ganhou contornos ainda mais trágicos: os dois homens envolvidos neste triste episódio eram pai e filho.
Como assim!? Porque um pai tiraria a vida do próprio filho!?
Segundo as fontes consultadas, o motivo da tragédia teria sido divergências de opiniões políticas. Os relatos de uma testemunha, para o delegado que atendeu o caso, dão conta de que o pai haveria dito que “preferia matar o filho ao vê-lo participar de um protesto” – em alusão à participação do jovem em uma ocupação de escola.
Particularmente quero acreditar que a relação entre pai e filho já estava desgastada por outros motivos – o que não justifica, em hipótese alguma, o ocorrido. As divergências políticas foram, talvez, o estopim de um trágico desfecho.
Infelizmente, temos observado uma rotina de disseminação de ódio associado a posições políticas divergentes. Nas redes sociais, talvez por dar voz àqueles que não a teriam fora do ambiente virtual, observa-se um festival de xingamentos e apologia à violência frente a opiniões contrárias. Tratam-se de posturas que visam legitimar, supostamente a partir de preceitos políticos, a adoção de vários tipos de violências para impor vontades e opiniões.
Esse contexto tem alimentado a divisão entre o “eles” e o “nós” – como se fosse possível a vida sociopolítica com essa segregação. Temos o dever de repensar nossas posturas urgentemente. Que as mortes de pai e filho em Goiânia não passem em branco.