Por Bruno Lyra
Questionada sobre os impactos da redução da produção da Vale ao parque industrial capixaba, a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) disse, na última semana, que as operações da mineradora estão normalizadas no estado.
A declaração contrasta com informação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontou recuo de 9,7 % na produção industrial capixaba em fevereiro. Foi o maior recuo do país entre os estados analisados. E, conforme o próprio IBGE, a queda foi resultado do rompimento da barragem de Brumadinho e a subsequente paralisação de dezenas de outras lavras da mineradora em Minas Gerais, por conta do risco de novos rompimentos.
Aliás, o estado mineiro também sofreu recuo de 4,7% em fevereiro. Para o IBGE, o tombo no Espírito Santo foi maior, porque o estado tem indústria menos diversificada; portanto, mais dependente do arranjo minero-siderúrgico puxado pela Vale.
A afirmação da Findes está na contramão de todas as leituras. Soa como um otimismo por osmose ou hábito que, além de prejudicar visão sobre mudanças no setor minero-siderúrgico, escancara a profunda dependência da modesta indústria local em relação a esse arranjo.
A mesma Findes que abrigou, em seus quadros, Ricardo Vescovi, ex-presidente da Samarco (Vale + BHP Billiton) à época do estouro da barragem em Mariana, episódio que afetou profundamente o ES, derrubando em quase 10% o PIB do Estado.
A Federação tem o vício de ler o Espírito Santo com a lente dos chamados grandes projetos. Os capixabas não são donos de grandes indústrias e esperam, de pires na mão, o que elas podem dar. Talvez isso explique o viés do discurso.
Esses mesmos capixabas assistem passivamente ao aprofundamento de desigualdades regionais. Agora que os municípios capixabas poderão receber royalties da mineração, a maior parte deverá ficar com Vitória. A capital exerce uma espécie de “pirataria tributária” em Tubarão, devorando impostos municipais nos dois portos do complexo, das oito usinas de pelotização da Vale. E ainda pega metade dos tributos da Arcelor Mittal, que está na Serra.
Está nebuloso o cenário para a economia do Espírito Santo – e da Serra – nos próximos meses, quiçá anos. Para completar o drama, a conjuntura econômica e política nacional seguem instáveis.