
Ana Paula Bonelli
Outubro é o mês da campanha de combate ao câncer de mama Outubro Rosa. E um artista capixaba Caio Cruz, de apenas 23 anos, usou a arte para chamar a atenção para o problema que afeta milhares de mulheres em todo o Brasil. E na tarde da última terça-feira (24) o pintor participou de um evento num hospital da Serra, mas para surpresa de todos uma de suas telas foi censurada.
Ao todo cinco telas dele foram expostas durante o evento, mas uma delas foi retirada do local por conter nudez.
A tela censurada faz parte da exposição Peito Aberto e é uma releitura de “O nascimento de Vênus” do artista italiano renascentista Botticelli.
“Criei o projeto voltado para mulheres com masmectomia, que tiraram a mama por causa do câncer, mulheres carecas, sem o peito, fora do padrão de beleza imposto pela sociedade e foi muito abraçado por mulheres que já passaram por esse problema. Muitas se sentiram abraçadas e me agradeceram”, conta o artista.
Caio disse ainda que se sentiu desrespeitado como artista mas que compreendeu. “O espaço é deles e eu respeito. É um trabalho, são releituras de obras famosas. Eu pintei a minha Monalisa, sem o peito. O projeto não tem teor sexual, nem pornográfico. Mas aconteceu isso. As pessoas devem parar de associar a nudez do corpo humano com o sexo, com o erotismo. Existem certos tipos de arte, em todos os aspectos, seja na pintura, teatro, cinema ou fotografia que não é para todos. Precisa ter maturidade do público para ser apreciada e compreendida”.
Quem quiser visitar, a exposição Peito Aberto, ficará aberta para visitação até o dia 19 de novembro, no Teatro Municipal de Vila Velha e a entrada é franca. Quem for ao local poderá apreciar 12 obras do artista plástico.
Vereadores querem proibir exposições
Tramita na Câmara de Vereadores da Serra o Projeto de Lei 251/2017, que proíbe, nos espaços públicos da cidade, exposições culturais que atentem contra a ‘dignidade sexual’. A ideia surgiu após as polêmicas envolvendo a exposição de artes Queermuseu em Porto Alegre e no MAM (Museu de Arte Moderna) em São Paulo. À frente da iniciativa estão dois vereadores, Aílton Rodrigues (PSC) e Roberto Catirica (PHS).
O projeto também proíbe o apoio e uso de recurso público em práticas que induzam ou instiguem a terceiros o uso de drogas ou que contenham mensagens ‘nocivas à ordem e a moral pública’ e o “uso de símbolos sagrados com fins que configurem profanação”.
Sobre a expressão ‘dignidade sexual’, os vereadores justificam. “Não é uma questão ideológica, mas a preservação das famílias. Não sei o que seria ou não proibido, mas o que aconteceu no MAM (Museu de Arte Moderna) foi algo fora do limite. O poder público não pode verter dinheiro para este tipo de manifestação cultural. Acho que defendo a vontade da maioria”, disse Catirica.
Já o Pastor Aílton acrescentou que não vê como censura e que o objetivo é combater o “desrespeito com as crianças. Colocar uma criança para tocar em um homem nu é provocar a sexualidade dessa criança; é não respeitar a dignidade dela. Respeitar a dignidade sexual significa tolerar a realização da sensualidade da pessoa adulta, maior de 18 anos, sem obstáculos ou entraves, desde que se faça sem violência ou grave ameaça a terceiros”, justificou.