Anunciada pelo governo do Estado para a próxima segunda – feira (04), a reabertura do comércio, incluindo shoppings, é uma atitude perigosa. Mesmo que a reabertura seja com restrições. Ontem (28) o Espírito Santo bateu o recorde de mortos pelo novo coronavírus, 14 vítimas em 24hs. O Brasil também bateu recorde de mortes com 474 casos em um dia e o total de pessoas que perderam a vida para a doença desde o início da pandemia já superou ao da China. Números que podem ser ainda piores, pois é notória a subnotificação de casos.
O que se observa na experiência de outros lugares é a que não há como precisar quando será o pico da pandemia. Com mais gente circulando, é improvável que se controle a contaminação. A chance maior é a de que ocorra o oposto.
A pressão pela reabertura do comércio acontece também em outros estados e países. É compreensível, uma vez que a interrupção dos negócios gera colapso econômico e social, além de reduzir brutalmente a arrecadação. E justamente no momento em que o Estado é forçado a gastar muito na saúde, assistência social e no socorro às empresas. Detalhe, sem flexibilidade para reduzir custos com funcionalismo e com pouca (ou nenhuma) ajuda da União, para onde vai a maior fatia da arrecadação. Brasília está sem rumo e o preço que o país paga por isto nesta pandemia é brutal.
É preciso avaliar com precisão se ligeiro alento na arrecadação de ICMS e na manutenção de emprego e renda com a reabertura do comércio compensa o colapso no sistema de saúde. Que aliás, a cada dia, se aproxima do limite no ES. Só de profissionais da área contaminados, já eram mais de 600 até ontem. E eles representavam assustadores 32% dos infectados. Não é simples substituir essa mão de obra. Tem ainda a conta dos leitos e respiradores. E a da capacidade de armazenar corpos e fazer enterros.
É preciso mirar-se nos exemplos das ricas Toscana (Itália), Madrid (Espanha) e Nova York (EUA), onde a epidemia ganhou contornos de tragédia humanitária. Não é confortável a situação do ES, que já tem mais casos de covid-19 do que a vizinha Minas Gerais, cinco vezes mais populosa.
O risco é especialmente grande para quem mora na Serra, Vila Velha e Vitória. Na Serra está a maior concentração de mortes do ES e em Morada de Laranjeiras fica o Jayme Santos, hospital de referência para tratar a covid-19. Vila Velha lidera o número de casos e Vitória também tem contabilidade elevada de doentes.
Liberar shoppings e comércios não essenciais agora e depois ter que parar tudo por conta de uma escalada catastrófica de mortes, pode ser ainda mais desastroso para a economia. O valor intrínseco de cada vida perdida não é algo que se possa mensurar.