Negros e pardos são maioria na Serra, mas sofrem com preconceito e violência

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Marta é administradora e diz já ter sentido olhares preconceituosos, mas a educação que recebeu ajuda a driblar o problema. Foto: Fábio Barcelos

Clarice Poltronieri

O último censo do IBGE feito em 2010, apontava que 67% da população da Serra era formada por pessoas negras e pardas. Apesar de serem maioria, os afrodescendentes sofrem discriminação e violência na cidade, que é uma das mais perigosas para jovens negros no Estado. É o que afirma o morador de Laranjeiras e presidente do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial, Rosemberg Moraes Caetano.

“O jovem negro é o que mais morre, a mulher negra é a maior vítima de violência, 90% dos encarcerados são negros, a maior taxa de analfabetismo e evasão escolar é de negros. O grito que ecoou no Queimado tem que continuar ecoando, pois resgatar esta história é dizer que nós negros queremos viver. Somos vítimas de preconceito pela cor da pele, pela religião e precisamos garantir nossos direitos, não só na Serra, como em todo Brasil”, frisa Rosemberg.

De fato, a Serra é a quarta cidade do Estado com mais risco de assassinato para jovens negros, ficando atrás apenas de São Mateus, Linhares e Guarapari. O dado é do estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em dezembro de 2017 e referente ao ano de 2015.

O mesmo estudo aponta que, em todo o país, a taxa de mortalidade de jovens negros foi de 86,34 para cada 100 mil na população, contra 31,89 para não negros, sendo o Espírito Santo o sexto mais violento neste ranking. As narrativas que apontam dificuldade de ascensão social para negros e pardos são comuns.  

Marta Jamila de Oliveira, que reside em Morada de Laranjeiras, é administradora e luta para provar que competência não tem relação com cor de pele.

“Vim de São Paulo há oito anos e desde lá sentia preconceito no olhar das pessoas. Mas como minha família me ensinou a lidar bem com isso, tiro de letra. Aqui na Serra também já recebi olhares desconfiados e tive até um vizinho, advogado e negro, que as pessoas do condomínio faziam piadas dizendo que ele era traficante por andar em um BMW”, conta Marta.

Para a administradora, quem é negro enfrenta uma barreira a mais na vida profissional. “Tem que provar o tempo todo sua competência, mais ainda de quem não é negro. Tive sorte em ter uma família que estimulava a leitura e estudos e hoje passo para meu filho. O negro deve se agarrar às oportunidades e estudar, pois só assim diminui um pouco o preconceito”, conclui.

A próxima segunda-feira (19) é lembrada a Insurreição de Queimado, movimento dos negros contra a escravidão cujo palco foi a antiga vila às margens do rio Santa Maria, na zona rural da cidade. A revolta hitórica aconteceu há  169 anos.

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Ana Paula Bonelli

Ana Paula Bonelli é repórter e chefe de redação do Jornal Tempo Novo, com 25 anos de atuação na equipe. Ao longo de sua trajetória, já contribuiu com diversas editorias do portal e hoje se destaca também à frente da coluna Divirta-se.

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