Clarice Poltronieri
Quase 30% das pessoas que desapareceram na Grande Vitória nos oito primeiros meses deste ano são meninas adolescentes entre 12 e 17 anos. Segundo dados fornecidos pelo Núcleo de Pessoas Desaparecidas (Nupede), da Polícia Civil, até o mês de agosto deste ano, dos 442 desaparecidos na Grande Vitória, 128 (29% do total) tinha este perfil. Deste número, 31 meninas ainda não haviam sido encontradas até o final de agosto.
Para a secretária Municipal de Políticas Públicas para as Mulheres, Luciana Mallini, essa é uma situação que precisa ser investigada e pode indicar a existência de tráfico de meninas, além de outros fatores causadores dos desaparecimentos.
“A secretaria não trabalha especificamente com crianças e adolescentes, mas atuamos muito na prevenção à violência contra a mulher. Temos levado este debate a vários setores sociais e observado a situação das crianças. Os casos tanto podem estar relacionados a fugas de situações de violência em casa e vulnerabilidade social, mas também podem indicar tráfico. O foco central do município é trabalhar a prevenção e o vínculo das famílias. O fato é que sobre esse número mostra a necessidade de reflexão dos governos (estadual, federal e municipal) para tentar entender o que acontece”, afirma.
A Polícia Civil não se manifestou sobre o assunto. Já o presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, José Carlos Nunes (PT), diz que não há dados sobre a participação do tráfico de pessoas no desaparecimento de meninas. Mas acredita que uma das razões de tantos casos está na violência contra a mulher. “A violência doméstica é um dos principais motivos. Os índices são alarmantes: nos sete primeiros meses deste ano, foram 14.115 novos processos no Tribunal de Justiça do estado e estão transitando 54.127 no total. No estado há 18.022 mulheres com medidas protetivas e este ano já houve 96 mortes por feminicídios”, lembra.