Muito além de formar professores de Karatê e Judô, o Instituto Continental em Ação (ICA) tem formado educadores sociais, que utilizam as artes marciais, outros esportes e manifestações artísticas, para transformar a realidade de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social em Cidade Continental, na Serra.
“É uma iniciativa inovadora”, afirma João Luiz Borges, Grão Mestre Nono Grau em Karatê, um dos únicos quatro Grãos Mestres do Brasil, responsável pelo Espírito Santo. “A gente passa para os nossos alunos essa forma de lidar com adolescentes que sofrem exclusão muito grande”, explica.
João Luiz tem orientado os professores do ICA e fará a entrega das novas faixas aos alunos e futuros professores/educadores sociais da instituição. A cerimônia acontece no dia 17 de dezembro.
O Grão Mestre, que já acumula experiência no trabalho com institutos socioeducativos, enfatiza que o adolescente que já está ou que é sujeito a entrar em conflito com a lei “precisa ser visto de forma diferenciada. “Foi um casamento perfeito. Esse trabalho vem dando certo, eu entrei de cabeça”, conta entusiasmado.
Com professores voluntários, uma psicóloga voluntária, uma assistente social e uma assistente administrativa, o ICA atende psicossocialmente a mais de duzentas crianças e adolescentes da região, com oficinas regulares de Karatê, Judô e Ballet, além de, sazonalmente, outras modalidades de lutas e danças, como Muay Thai e Forró. Além de todas as aulas e treinos, todos os beneficiários têm acompanhamento sociofamiliar com o Serviço Social e Psicóloga da Instituição.
O objetivo é oferecer atividades que assegurem o direito de acesso a esportes, cultura e lazer para crianças e adolescentes, reforçando os vínculos familiares e comunitários entre crianças e adolescentes da mesma faixa etária, possibilitando despertar e desenvolver talentos e trazer para essas crianças e adolescentes a responsabilidade de serem atores de sua própria história, lidando com as questões da vida presente com o olhar para o futuro, contrapondo o contexto atual, de grande vulnerabilidade social.
Junto às famílias, os atendimentos individuais com psicóloga e assistente social, aliados a algumas oficinas – como informática e cursos profissionalizantes, oferecidos pelo ICA em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC)– complementa a rotina de aulas e treinos das crianças e adolescentes, favorecendo uma harmonização dentro das famílias atendidas, com mais diálogo entre filhos/as e tutores, o que ajuda a “blindar” as famílias contra a violência e as adversidades socioeconômicas características da comunidade onde elas estão inseridas.
“A gente vê as mudanças de vidas, através do apoio familiar, do cuidado com as crianças com necessidades especiais. Vidas que se transformam pro bem!”, conta Rubiamara Costa, fundadora e presidenta do ICA.
Envolvimento comunitário
Única Ong em funcionamento em Cidade Continental, o ICA, desde que iniciou seu trabalho, em 2009, promove um forte envolvimento da comunidade como um todo, extrapolando o universo das famílias diretamente beneficiadas pelas oficinas e atendimentos individuais. Rifas e festas são realizadas para a arrecadação de recursos necessários à evolução das crianças e adolescentes nas artes marciais e ballet.
Faixas, uniformes, competições – muitas fora do município e até do estado – e formaturas são viabilizadas por meio dessas colaborações. Rubiamara diz que um exame de mudança de faixa pode chegar a custar R$ 1.800,00 e a participação de um único jovem em uma competição custa em média R$ 70,00.
Em dezembro, dois alunos se formarão faixa preta em Karatê, todos iniciados no ICA como faixa branca em 2010. No Judô, um se formará faixa marrom, após seis anos na Instituição. São eles: Thiago Carvalho de Carvalho, 19 anos, Renan Alvarenga Monteiro, 18, e Talles Cley Costa de Paula, 21. “Cada um teve suas turbulências na vida, suas quedas. E o ICA deu a mão pra levantar”, conta.
“A minha esperança está nesses meninos”, afirma a presidenta do ICA, em referência aos jovens dedicadas que se dedicam às oficinas, diante das dificuldades com que a Ong tem conseguido manter suas atividades. “Eles me dizem sempre que “por nós, o Karatê e o Judô não acabam nunca”!”, diz, emocionada.
Mais informações:
Instituto Continental em Ação: (27) 3238-7637 institutocontinentalemacao@gmail.com