Bruno Lyra
É polêmica a intervenção federal do governo do presidente Michel Temer (PMDB) na segurança pública do Rio de Janeiro, que foi transferida para o comando militar das Forças Armadas. Primeiro porque o mecanismo legal utilizado foi limite, ou seja, após ele só uma militarização completa da gestão pública.
Em ocasiões anteriores, no próprio Rio de Janeiro as forças armadas atuaram (Copa do Mundo e Olimpíadas), mas com comando compartilhado com o poder civil, através da Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Caso também ocorrido no Espírito Santo durante a paralisação da PM no ano passado e também em estados do Nordeste.
Também chamou a atenção o desejo do governo em obter mandados de busca e apreensão coletivos. Na prática, casas de pobres em favelas. Já há tese que os agentes tenham carta branca para matar pessoas que estejam ostentando armas de grosso calibre.
No pós-carnaval do Rio, no desfile das escolas de samba campeãs, censura. O vampiro alusivo a Michel Temer foi impedido de desfilar com a faixa presidencial.
Essa intervenção coincide com a derrota do governo na reforma da previdência. E no contexto da operação Lava-Jato, que está investigando (e condenando) políticos de diversos partidos e mirou com força no polêmico ex-presidente Lula, líder nas pesquisas de intenção de votos para presidência.
A grave crise na segurança do Rio se arrasta há décadas. O clamor da sociedade é forte e este é o melhor argumento dos defensores da intervenção. Mas a crise da segurança é nacional.
Ademais, forças armadas são treinadas para matar, para a guerra. No entanto pesa a favor das nossas forças armadas a experiência como liderança das forças de Paz da ONU no Haiti e no Timor Leste.
A experiência, os exemplos do próprio Rio de Janeiro e do Espírito Santo após a saída das forças armadas mostram que segurança pública é muito mais do encher favelas de homens fortemente armados nos seus veículos blindados por uma temporada.
Instituições, empresas e lideranças que comungam dos valores democráticos devem abrir os olhos para um eventual recrudescimento do autoritarismo. Aqui é a América Latina de vocação caudilhista.