
Diversas entidades religiosas e organizações de defesa da igualdade racial estão convocando ativistas e simpatizantes para uma manifestação em frente à Câmara da Serra. A ação, intitulada “Convite para Ato de Denúncia e Resistência”, está marcada para esta quarta-feira (14), às 15h — apenas uma hora antes do início da sessão ordinária do Legislativo.
Participarão do ato o Fórum Chico Prego, a União Espírita Capixaba (Unescap), o Movimento Negro Unificado (MNU), o Conselho Municipal de Promoção de Políticas de Igualdade Racial (Comppir), a União de Matrizes Africanas (UMA) e o Instituto Eco Vida.
Segundo os organizadores, o protesto tem como objetivo denunciar as “violências institucionais dirigidas à população negra, às religiões de matriz africana e às pautas de diversidade e inclusão”. As entidades acusam nominalmente o vereador Antônio Carlos CEA (Republicanos) de intolerância religiosa e de violência contra uma servidora adepta da Umbanda, identificada como Saionara Paixão.
As tensões começaram em março, quando os movimentos alegam que o parlamentar teria feito provocações de cunho religioso após uma sessão solene em homenagem ao Queimado. A crise se intensificou nesta semana, após CEA votar contra a atualização da nomenclatura da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, que passou a incluir o termo “Povos Tradicionais” e substituiu a palavra “Negro” por “Igualdade Racial”. Na ocasião, o vereador afirmou que o tema era “irrelevante”.
Esse contexto foi o pano de fundo para a confusão registrada na sessão da última segunda-feira (12), quando Saionara teria se manifestado durante a fala de um vereador que defendia CEA – situação que não é permitida pelo Regimento Interno. O protesto da servidora teria provocado reações de alguns parlamentares, entre eles CEA — que se dirigiu até a cabine onde a funcionária estava —, desencadeando uma situação ainda nebulosa. A servidora deixou o plenário chorando, alegando ter sido ofendida e humilhada. Ambos se dirigiram à delegacia, onde um novo desentendimento foi registrado.
“Nos últimos dias, presenciamos ataques que não são isolados: são expressões de racismo religioso, machismo e intolerância dentro de espaços que deveriam garantir direitos. Diante disso, reafirmamos: não nos calaremos. Nosso encontro será um momento de força coletiva, de cuidado mútuo e afirmação política. Vamos ocupar com nossos corpos, nossas vozes e nossa espiritualidade”, diz o texto do convite à manifestação.
Segundo Egbon Brasinha, coordenador da UMA, o conflito com CEA se arrasta desde março, mas atingiu um novo patamar com os “ataques” desferidos contra a servidora. “Além de humilhar publicamente a Saionara, ele ainda tentou intimidá-la na delegacia. Trata-se de uma mulher, negra, uma pessoa de matriz africana. Como ele mesmo disse na Câmara, na opinião dele somos pessoas irrelevantes. Vamos mostrar que ela não é irrelevante”, afirmou.
Após a repercussão do caso, CEA procurou o Jornal Tempo Novo para apresentar sua versão dos fatos. Ele nega ter cometido intolerância religiosa e acusa uma vereadora da Casa — referindo-se a Raphaela Moraes (PP) — de estar por trás do movimento, com o objetivo de prejudicá-lo politicamente. O vereador também nega qualquer agressão física ou verbal e afirma que foi à delegacia por vontade própria, apenas para registrar um boletim de ocorrência. Por fim, criticou o Jornal Tempo Novo pela cobertura do caso.