A ArcelorMittal Tubarão é, de longe, a maior empresa da Serra, e a política tarifária do presidente norte-americano Donald Trump atinge diretamente as exportações da siderúrgica capixaba. No primeiro semestre deste ano, quase 80% de tudo o que foi exportado a partir da Serra correspondeu a produtos siderúrgicos — sendo a maioria destinada ao mercado dos Estados Unidos.
É um golpe duro para a economia local, altamente dependente da produção de aço da ArcelorMittal. A coluna procurou a unidade de Tubarão para comentar os possíveis impactos e as alternativas para mitigá-los. A empresa optou por enviar uma nota da ArcelorMittal Brasil, que controla todas as unidades do grupo no país, incluindo, evidentemente, a planta localizada na ponta sul do litoral da Serra.
Segundo a ArcelorMittal Brasil, as tarifas de 50% impostas por Trump “aumentam a instabilidade em um mercado global já desafiador”. Vale lembrar que a cadeia do aço já vinha enfrentando dificuldades devido ao excedente da produção siderúrgica da China, que tem vendido aço para o mundo todo a preços subsidiados pelo governo chinês — o que representa uma competição desleal.
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No Brasil, o Instituto Aço Brasil, entidade que representa o setor siderúrgico, já vinha denunciando essa prática há meses e cobrando medidas de proteção comercial contra o aço chinês subsidiado.
Diante do novo cenário, a ArcelorMittal defende a retomada do acordo de cotas para exportação de aço ao mercado norte-americano, nos moldes anteriores. Esse modelo estabelecia volumes específicos de comercialização com tributação reduzida, o que permitia manter a competitividade dos produtos brasileiros nos Estados Unidos.
Investimentos ameaçados na Serra
No entanto, o ponto mais sensível para a Serra está no trecho final da nota enviada pela empresa, onde afirma estar “avaliando o cenário para orientar seus investimentos no país, que dependem de isonomia competitiva e de avanços nas relações comerciais externas”. Em outras palavras, a ArcelorMittal sinaliza que as tarifas impostas pelos Estados Unidos podem comprometer seus planos de investimento no Brasil — entre ele o projeto anunciado para a Serra.
Trata-se do Laminar de Tiras a Frio (LTF), revelado em fevereiro deste ano, considerado um dos maiores investimentos da empresa no país nas últimas décadas. O projeto representa um aporte de R$ 4 bilhões e prevê a produção de uma nova linha de aço com maior valor agregado e qualidade superior. Com isso, a unidade da Serra passaria a produzir diretamente insumos para setores estratégicos, como a indústria automotiva, de eletrodomésticos e de energia solar.
Quando anunciado, o LTF foi apresentado como responsável pela geração de aproximadamente 2.500 empregos diretos e indiretos durante sua implantação. Após a conclusão, prevista para os próximos anos, a operação do laminador criaria mais 400 postos de trabalho fixos. E esses números referem-se apenas à ArcelorMittal — o impacto indireto seria ainda maior, com efeito cascata em diversos negócios associados à cadeia do aço.
Ainda não está claro como a ArcelorMittal vai se posicionar diante da política tarifária de Donald Trump, que desestimula a entrada de produtos brasileiros nos Estados Unidos. Menos claro ainda é o comportamento que será adotado pelo Governo Federal. Caso o Brasil opte por uma retaliação comercial — por meio da imposição de tarifas sobre produtos norte-americanos — a medida também poderá afetar a própria ArcelorMittal Tubarão, que depende da importação de grandes volumes de carvão mineral para alimentar sua produção de aço.
Trata-se de um período delicado para a economia da Serra, município capixaba mais dependente do comércio com os Estados Unidos. Entre janeiro e junho deste ano, 75% de tudo o que a cidade exportou teve como destino o mercado norte-americano. São bilhões de reais sobre a mesa de negociação, sem qualquer expectativa concreta sobre os desdobramentos. E no centro desse cenário de incertezas está a ArcelorMittal, âncora econômica da Serra e responsável por grande parte da movimentação comercial do município.

