Mestre Álvaro
Yuri Scardini é autor do livro 'Serra: a história de uma cidade' e escreve sobre política e economia

Novos dados IBGE: Feu Rosa perde o título de bairro mais populoso da Serra – mas mudança é estrutural

Serra
Centralidade urbana de Laranjeiras fez emergir bairros satélites que desenvolveram seus próprios processos habitacionais. Crédito: Divulgação

A formação histórica da Serra gerou diversas comunidades superpopulosas, especialmente aquelas com características de periferia, uma vez que muitas surgiram integral ou parcialmente de movimentos de ocupação irregular que impulsionaram o crescimento populacional da região após a chegada do setor industrial. Um dos principais exemplos é o bairro Feu Rosa, inicialmente inaugurado nos anos 1980 sob o nome de Bairro das Flores. Devido à sua distância em relação ao Complexo de Tubarão, o loteamento foi sendo ocupado gradativamente. No entanto, em 1985, um grande deslizamento de terra no Morro do Macaco, em Vitória, desencadeou uma situação trágica, deixando centenas de famílias desabrigadas.

A solução encontrada pelo governador da época, Gerson Camata, em parceria com o prefeito João Batista da Motta, foi realocar milhares dessas pessoas para o loteamento do Bairro das Flores. Esse evento marcou o início da transformação do bairro Feu Rosa, que nos anos seguintes se tornou o mais populoso da Serra. Além de seu território original, diversos processos de ocupação urbana expandiram o bairro de maneira irregular, seguindo o rastro das expansões e invasões da região de Grande Jacaraípe. Esse processo foi influenciado principalmente pelos projetos expansionistas da Vale e da antiga CST, que atraíram uma grande população de trabalhadores migrantes para a Serra.

Assim, apesar de todas as vulnerabilidades — muitas já resolvidas ou mitigadas —, Feu Rosa tornou-se símbolo de uma Serra em constante transformação. Porém, novos dados divulgados em 23 de março revelaram que a cidade passa por outra mudança, impulsionada pela centralidade urbana de Laranjeiras estabelecida nos anos de 1990. Vejamos os dados: no Censo Demográfico de 2010, Feu Rosa ainda era o bairro mais populoso, com 19.508 habitantes. Esse número foi revisado para baixo, pois o novo Censo de 2022 revelou que o bairro teve uma diminuição populacional de 8,3%, resultando em uma população de 17.897 habitantes.

Em contrapartida, a macrorregião do Planalto de Carapina, onde o bairro Parque Residencial Laranjeiras se estabeleceu como centro urbano e comercial, viu o surgimento de bairros satélites que desenvolveram suas próprias dinâmicas de expansão habitacional. Nesse contexto, Colina de Laranjeiras saltou de 4.131 residentes em 2010 para 18.487 em 2022, o que representa um incrível aumento de 347,5%. O crescimento de Colina está diretamente associado à centralidade urbana e comercial de Laranjeiras, bem como ao processo de falência da antiga Atlantic Venner do Brasil, cuja grande área do bairro foi leiloada e adquirida pela construtora MRV. Esse desenvolvimento também é impulsionado pelo acesso às principais vias de trânsito, como a Avenida Norte-Sul e a BR-101 (futura Avenida Mestre Álvaro).

Processo similar, guinado pela centralidade urbana de Laranjeiras, transformou a antiga fazenda da família Martins em um dos bairros mais populosos da Serra, com o primitivo nome de Laranjeiras II, renomeado no início dos anos 2000 como Morada de Laranjeiras. Assim como Colina, Morada sofreu uma adensamento populacional muito intenso, saltando de 5.608 moradores em 2010 para 14.880 em 2022, um crescimento de 165,3%. Abaixo segue tabela dos 10 bairros mais populosos da Serra de acordo com o Censo de 2022 em comparação com o Censo de 2010:
A paisagem urbana da Serra tornou evidente o adensamento populacional dos bairros satélites a Laranjeiras. Entretanto, os dados apontam principalmente para uma mudança no tipo de ocupação urbana, que evoluiu para um padrão de construções verticais e regulares. Isso contrasta com o passado marcado por ocupações irregulares e construções predominantemente horizontais, que deram origem às principais comunidades, como as que estão classificadas da segunda até a quinta posição, por exemplo.

Especificamente falando, já abordamos Feu Rosa, mas o Bairro das Laranjeiras surgiu exclusivamente a partir de invasões de terras. Originalmente, esse bairro resultou da união das áreas conhecidas na época como Invasão I e Invasão II, formando o maior conglomerado populacional na região de Jacaraípe. Apesar de levar o topônimo de ‘Laranjeiras’, o bairro situa-se na zona oeste de Jacaraípe, afastado do litoral, região onde as ocupações irregulares se intensificaram após a década de 1980, impulsionadas pela construção e posteriores expansões da CST.

Vila Nova de Colares surgiu como uma extensão de Feu Rosa, com partes regularizadas, mas predominantemente por ocupações irregulares. Por sua vez, Planalto Serrano é um dos maiores exemplos de ocupação residencial por famílias migrantes sem opções de moradia entre as décadas de 1980 e 1990. Originalmente concebido como um loteamento regular chamado Conjunto João Miguel, o projeto enfrentou um revés no início dos anos 80 quando a construtora Marajá S.A faliu e abandonou o empreendimento. Com a crescente demanda habitacional, o local foi ocupado por famílias migrantes, especialmente do Nordeste. O bairro era conhecido como Marajá, em referência à construtora, até que um processo de regularização fundiária renomeou a área como Planalto Serrano.

O Censo de 2022 revelou um amadurecimento no processo habitacional da Serra, bem como um maior controle do poder público na contenção da expansão irregular que marcou a dinâmica urbana da cidade após 1960, época em que a fase industrial se iniciou com a construção do terminal oceânico da Vale na Ponta de Tubarão. Contudo, o censo também destacou que o crescimento populacional da Serra continua em ritmo acelerado, gerando uma demanda habitacional enorme, especialmente absorvida pelos bairros satélites a Laranjeiras.

Para contextualizar, a população da Serra atingiu 520.649 pessoas no Censo de 2022. Esse número representa um aumento de 24,76% em relação ao Censo de 2010, que registrou 417.267 residentes. Esses dados posicionam a Serra como a cidade com a maior taxa de crescimento populacional no Espírito Santo e a 12ª em todo o país. Esse aumento populacional é uma tendência contínua desde o desmantelamento da Freguesia de São José do Queimado e a mudança nos eixos de desenvolvimento, inicialmente direcionados para o litoral e, posteriormente, para a região do Planalto de Carapina, onde Laranjeiras se estabeleceu como centro urbano. Esse desenvolvimento foi impulsionado especialmente pela sua localização estratégica entre a BR-101, a Avenida Norte-Sul e a ES-010, e por projetos como o Terminal de Laranjeiras e a construção do primeiro hospital de grande porte da Serra, o Dório Silva.

Laranjeiras está suficientemente distante do Complexo de Tubarão para não sofrer os impactos sociais negativos associados, mas também não está tão afastada de Vitória, diferentemente da Serra Sede. Além disso, não enfrenta as restrições à verticalização impostas pelo cone de aproximação do Aeroporto, que transformou a parte norte de Vitória em um dos cartões postais da cidade com as aeronaves descendo majestosamente sobre Camburi, enquanto para a parte sul da Serra, conhecida genericamente como Carapina, representa um obstáculo ao seu desenvolvimento. Assim que novos dados forem divulgados pelo IBGE, a coluna irá trazer listagem completa.

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