Conciliar as atividades profissionais, pessoais e políticas não é tarefa das mais fáceis para as mulheres, que ainda nos dias de hoje precisam superar obstáculos para poder ingressar na atividade. Vale ressaltar que no Brasil, apenas em 1946 o direito ao voto estendeu a obrigatoriedade a todas as mulheres. Em função desse histórico e de outras situações, a política segue sendo um ambiente predominantemente masculino.

A um ano das eleições municipais, o TEMPO NOVO preparou uma reportagem – dividida em duas partes, para ouvir algumas mulheres que optaram por perseguir o ideal político e participar dos debates partidários e eleitorais na cidade, no Estado e no país.

Nesta primeira parte, mandatárias com histórico de atuação na Serra traçam um desenho sobre a desigualdade de oportunidade para entrar na política; criticam o sistema partidário que é conduzido em sua maioria por homens; e apontam a necessidade de uma legislação eleitoral mais abrangente e inclusiva.

Deputada Iriny Lopes defende conta de cadeiras no parlamento para mulheres. Foto: Divulgação

A deputada estadual Iriny Lopes (PT), que já teve domicílio eleitoral na Serra tem uma longa trajetória política, chegou a ser Ministra-chefe da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres no Governo de Dilma Rousseff. Segundo ela, o exercício da política para as mulheres é mais difícil, visto que as direções partidárias são majoritariamente formada por homens.

“Esse pensamento acaba sendo difundido na sociedade e reproduzido um preconceito de que nós, mulheres, não estamos preparadas para atender aos requisitos básicos do exercício de um mandato. Em função disso temos uma baixa presença de mulheres na política. Primeiro que são condicionadas desde menina a rejeitarem essas atividades por enxergarem esse como um mundo muito masculino”.

Para contornar as barreiras e o preconceito, a deputada defende que sejam implantadas cotas de representação feminina no parlamento. “Devemos ter no Brasil cota de cadeiras e não de candidaturas. O motivo é essa separação de que o mundo público pertence aos homens e o mundo privado às mulheres. Sair dessa casca de ovo não é tão simples para as mulheres. Em função disso, o falar em público aterroriza algumas mulheres”, explicou.

A deputada Soraya Manato critica o sistema partidário que é controlado predominantemente por homens. Foto: Divulgação

Eleita para seu primeiro mandato de deputada estadual com 57.741 votos, Dra Soraya Manato, que por muitos anos exerceu a atividade médica na Serra, disse que o tema envolve vários debates dentro do contexto social brasileiro para que seja possível entender se os obstáculos para a conquista da igualdade dos sexos no âmbito dos partidos políticos são ainda resquícios da sujeição da mulher na sociedade ou se realmente poucas se interessam pelo assunto.

“É necessário entender que o poderio dos partidos políticos brasileiros ainda está nas mãos dos homens e que a mulher muitas vezes não tem a abertura natural para se engajar nos projetos desses partidos”.

Dra. Soraya, assim como Iriny, acredita que a cota de gênero (30%) na chapa dos partidos não é suficiente para igualar as oportunidades de acesso de mulheres na política. “Em termos de legislação vemos o surgimento das cotas para as mulheres. Mas, apesar de as cotas serem uma forma de igualar oportunidades, acredito que não seja a forma mais justa para garantir a presença feminina na política. Por outro lado, mesmo que timidamente, tem contribuído para que partidos insiram as mulheres em seus ambientes. O Congresso está debatendo esse tema que é muito pertinente, sendo este, o momento para entendermos a melhor forma de a mulher participar da política no Brasil”.

Márcia Lamas defende capacitação para mulheres ingressarem na política. Foto: Jansen Lube

A vice-prefeita da Serra, Márcia Lamas, é uma das mulheres mais experientes em exercício de cargos público na Serra. Ela começou sua carreira profissional como professora e entrou na política por meio dos movimentos sociais. “Foi a Educação e os movimentos comunitários que me encaminharam para eleição dos mandatos de vereadora e de vice-prefeita. E das disputas para deputada federal, tendo sido primeira-suplente na eleição de 1998”, conta.

Ela defende que os partidos promovam capacitação interna para que mulheres sejam especialmente preparadas para a eleição e superem as barreiras impostas pelo sistema partidário-eleitoral. “Hoje sou vice-prefeita da Serra, presido o PSB municipal e atuo no incentivo e capacitação de mais mulheres na política. E o próximo teste será a eleição municipal que se aproxima”, afirmou.

A vereadora Cleusa acredita que em 2020 mais mulheres serão eleitas. Foto: Divulgação

A vereadora Cleusa Paixão (PMN) iniciou suas atividades políticas à frente do movimento popular na Serra. Ela é uma das duas vereadoras em exercício dos 23 parlamentares eleitos em 2016. Ela critica a falta de inclusão de gênero na Câmara da Serra, mas acredita que em 2020 pode ser um ano de mais mulheres na política.

“Foi um sonho realizado (ser eleita vereadora); embora tenha dado o melhor de mim, quando se encontra uma Câmara viciada é complicado para nós mulheres; mas os vereadores têm se ponderado e reaprendido uns com os outros. Essa Câmara tem tudo para ser mais positiva daqui para a frente”, disse.

Mari Nascimento é repórter do Tempo Novo há 18 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal, principalmente para a de Política.