Indústria do ES já fala em demissões com tarifas de Trump — Serra é a mais afetada

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O dia 1º de agosto se aproxima — data em que, segundo o presidente norte-americano Donald Trump, começam a valer as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos. Diante desse cenário, a indústria capixaba já admite a possibilidade de desacelerar a produção e iniciar demissões.

Caso as medidas se concretizem, a cidade da Serra tende a ser a mais impactada do Espírito Santo. Isso porque, além de ser o município mais industrializado do estado, é também o mais dependente do comércio com os norte-americanos — especialmente nos segmentos de rochas ornamentais beneficiadas e na siderurgia, que está no topo de uma ampla cadeia de fornecedores e prestadores de serviços.

A possibilidade de corte de produção e demissões foi divulgada em nota pela Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), assinada por seu presidente, Paulo Baraona. O comunicado destaca que os setores industriais capixaba e nacional já avaliam medidas emergenciais diante da iminente taxação americana. Entre as providências em análise estão “a redução do ritmo de produção e, de forma ainda mais preocupante, o fechamento de postos de trabalho”.

Segundo a Findes, o objetivo dessas ações seria mitigar os impactos da nova política tarifária de Trump sobre “a saúde financeira das empresas e preservar, na medida do possível, a sustentabilidade dos negócios”.

A entidade também alertou que as empresas localizadas no Espírito Santo devem adotar medidas ainda mais drásticas, uma vez que o estado está entre os mais atingidos pelas tarifas, já que tem nos Estados Unidos o seu principal parceiro comercial. “Em 2024, os EUA responderam por 28,6% das exportações capixabas, conforme dados do Observatório Findes. O Espírito Santo é o segundo estado brasileiro com maior dependência das exportações para os EUA, atrás apenas do Ceará (45%)”, destacou a federação.

Somente no ano passado, o Espírito Santo exportou US$ 3,06 bilhões para os Estados Unidos, enquanto importou US$ 2,05 bilhões — um saldo positivo agora ameaçado por uma política comercial unilateral e arbitrária imposta pelo governo norte-americano.

Serra é a cidade capixaba mais vulnerável às tarifas dos EUA

Com 74,6% de suas exportações destinadas aos Estados Unidos no primeiro semestre de 2025 — o equivalente a US$ 633 milhões —, a Serra é o município capixaba mais exposto aos impactos das tarifas de 50% anunciadas pelo governo Trump. Apesar de Vitória liderar o volume total exportado, seu perfil é mais diversificado, enquanto a Serra é altamente dependente do mercado norte-americano, especialmente no setor de rochas ornamentais beneficiadas e na siderurgia.

Exportações já estão sendo suspensas

Desde o anúncio das tarifas, estima-se que cerca de 60% dos embarques de rochas naturais brasileiras aos EUA foram suspensos, segundo a Centrorochas. O impacto é maior no Espírito Santo, onde 95% dos contêineres com destino aos EUA partem, em especial da Serra — o maior exportador nacional do setor. A previsão é de que cerca de 1.140 contêineres deixem de ser embarcados, o que pode gerar perdas de até US$ 38 milhões nas exportações capixabas apenas em julho.

Entre janeiro e junho de 2025, 1 em cada 4 dólares das exportações brasileiras de rochas ornamentais saiu da Serra, que respondeu por 25,21% do total nacional, somando chapas e blocos.

Retaliação brasileira pode agravar cenário na Serra

Menos de uma semana após o anúncio das tarifas por Trump, o presidente Lula publicou a regulamentação da Lei de Reciprocidade Econômica, que autoriza o Brasil a retaliar países que adotarem barreiras comerciais contra seus produtos. Se o governo brasileiro optar por retaliar, a Serra pode ser atingida em duas frentes: nas exportações e também nas importações, já que os EUA também são seu principal fornecedor de mercadorias.

Em 2024, 25% de tudo o que a Serra importou veio dos Estados Unidos, ao passo que 62% de suas exportações também seguiram para o mercado americano, reforçando a dependência bilateral da cidade em relação à maior economia do mundo.

O principal produto importado foi o carvão mineral, insumo essencial para a produção da ArcelorMittal, maior empresa instalada na cidade. Em 2024, o carvão respondeu por 44% de todo o volume importado pela Serra — e parte desse material veio diretamente dos EUA. Caso a empresa não encontre alternativas de fornecimento, poderá enfrentar dificuldades operacionais, o que causaria um efeito em cadeia na economia local.

Foto de Yuri Scardini

Yuri Scardini

Yuri Scardini é diretor de jornalismo do Jornal Tempo Novo e colunista do portal. À frente da coluna Mestre Álvaro, aborda temas relevantes para quem vive na Serra, com análises aprofundadas sobre política, economia e outros assuntos que impactam diretamente a vida da população local. Seu trabalho se destaca pela leitura crítica dos fatos e pelo uso de dados para embasar reflexões sobre o município e o Espírito Santo.

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