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Mestre Álvaro
Yuri Scardini é autor do livro 'Serra: a história de uma cidade' e escreve sobre política e economia

Estado apresenta à União projetos de BRT e monotrilho elevado para ligar Serra e Vitória

Sem tempo para ler? No fim do artigo tem um resumo em 10 perguntas e respostas para te ajudar a economizar tempo, só arrastar para baixo.

Projetos foram inseridos no Estudo Nacional de Mobilidade Urbana, do Governo Federal.

A Serra está entre as cidades brasileiras que podem ser beneficiadas com recursos federais para grandes investimentos em mobilidade urbana. Isso porque o Governo do Espírito Santo apresentou ao BNDES projetos considerados estratégicos para a Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV) — e alguns deles contemplam diretamente o município serrano.

A proposta integra o Estudo Nacional de Mobilidade Urbana, uma iniciativa do BNDES em parceria com o Ministério das Cidades, que visa reduzir o déficit histórico de investimentos em sistemas de transporte público de média e alta capacidade nas principais regiões metropolitanas do país.

A Grande Vitória foi uma das 21 regiões selecionadas por atender aos critérios técnicos do estudo — entre eles, ter uma população conurbada superior a 1 milhão de habitantes. Segundo o boletim mais recente, foram identificados cerca de 400 projetos prioritários, com custo estimado em mais de R$ 600 bilhões.

Esse levantamento servirá de base para a formulação da Estratégia Nacional de Mobilidade Urbana, que indicará caminhos para tirar os projetos do papel. A proposta é articular parcerias entre a União e os estados, além de estruturar uma carteira nacional de concessões e parcerias público-privadas (PPPs) no âmbito do Novo PAC.

Na prática, os projetos formarão o primeiro banco nacional de iniciativas voltadas ao transporte coletivo de média e alta capacidade. No entanto, é evidente que o governo federal não dispõe de R$ 600 bilhões para atender a toda essa demanda, e por isso ainda não há definição sobre quais projetos serão executados — nem quando, nem se, de fato, sairão do papel.

A seleção dos contemplados deve levar em conta critérios de eficiência técnica, mas também o nível de articulação política com Brasília — fator decisivo para o avanço de projetos como os propostos para a Serra. Vale lembrar que iniciativas como o Contorno do Mestre Álvaro e o Hospital Materno-Infantil levaram mais de duas décadas para serem concluídas. Ou seja, demora, e muito — mas, se bem trabalhado, uma hora sai.

Projeto de BRT inclui trecho na Serra, mas ainda engatinha

BRT no Rio de Janeiro. Marcelo Piu/Prefeitura do Rio

Entre as propostas que envolvem o município serrano está a implantação do sistema BRT (Bus Rapid Transit) — um modelo de transporte coletivo por ônibus articulados em corredores exclusivos, mais rápido e eficiente, com padrão semelhante ao do metrô, porém com custo inferior. Ainda assim, trata-se de um projeto milionário, que exige obras de infraestrutura viária e desapropriações ao longo do traçado.

O projeto apresentado ao BNDES é baseado em um estudo anterior, elaborado entre 2012 e 2013, que detalha todas as etapas para a implementação de um sistema BRT integrando Vitória, Serra, Cariacica e Vila Velha, totalizando cerca de 35 km de extensão, dividido em três fases:

Fase 1: Interligação entre o Terminal do IBES (Vila Velha) e o Terminal Jardim América (Cariacica), com 11,4 km de extensão e 7 estações. O custo estimado é de R$ 315 milhões;

Fase 2: Extensão da Fase 1 com um corredor central em Vila Velha, atravessando a Terceira Ponte até Vitória. São 7,5 km, 6 estações e ampliação do Terminal de Vila Velha. O investimento previsto é de R$ 143,25 milhões, sujeito a atualização;

Fase 3: Conexão com a Serra. O traçado prevê 16,1 km, 37 estações, atravessando as principais avenidas de Vitória, BR-101 (que será municipalizada), até o Terminal de Laranjeiras, na Serra. Obs.: no projeto consta “Terminal de Carapina”, o que provavelmente é um erro de redação, já que o mapa indica claramente o traçado até Laranjeiras — o que faz mais sentido em termos de mobilidade urbana.

No entanto, a etapa que contempla a Serra é a menos avançada. A Fase 3 ainda não possui projetos básico e executivo elaborados. O traçado está definido, mas carece de estudos específicos de viabilidade técnica e estimativa de custos. O Governo do Estado alerta que os estudos de demanda também precisam ser atualizados.

Mesmo com essas pendências, o Governo destaca que a Serra se diferencia por seu dinamismo populacional dentro da RMGV. Com uma taxa de crescimento de 24,76% entre 2010 e 2022, o município figura entre os dez que mais cresceram no Brasil nesse período. A tendência, segundo o próprio Governo, é que a expansão da Grande Vitória continue migrando para a Serra, impulsionada pelo alto custo imobiliário em Vitória e pela sua capacidade territorial limitada.

Além disso, a Serra tem atraído investimentos grandes em infraestrutura, especialmente viária, o que impulsiona o surgimento de novos loteamentos e núcleos urbanos.

Sky Shuttle (Monotrilho)

A fabricante chinesa BYD entregou à prefeitura de Campinas proposta similar ao que é projetado na Serra. Crédito: divulgação.

Outra “opção”, por assim dizer, que o Governo do Estado inseriu no estudo é o sistema Sky Shuttle. Trata-se de uma tecnologia mais moderna de transporte urbano sobre trilhos elevados, que se movimenta sobre uma única viga de concreto ou aço. O modelo opera acima do tráfego de veículos, reduzindo a interferência com outros modos de transporte.

O projeto foi recentemente incluído no Estudo Nacional de Mobilidade Urbana, mas já havia sido divulgado em 2019, em um estudo específico de implementação. A proposta prevê a ligação entre Vitória e Serra, passando pela Reta do Aeroporto (Rodovia das Paneleiras), em um trajeto de 18,3 km. Trata-se de um sistema totalmente automatizado, sem necessidade de tripulação, capaz de operar de dois a quatro vagões com 70 passageiros cada, totalizando de 140 a 280 passageiros por viagem, a uma velocidade média de 35 km/h — o que permitiria percorrer todo o trajeto em cerca de 30 minutos.

O Sky Shuttle foi projetado para atender até 8.000 passageiros por hora e por sentido, funcionando paralelamente ao sistema de ônibus, com previsão (na época) de implantação em 2026.

No entanto, ao cruzar os dados apresentados, a matemática não fecha. No limite máximo de operação, o sistema precisaria realizar entre 29 e 57 viagens por hora e por sentido, dependendo da configuração dos vagões — o que é irreal. Como uma viagem completa (apenas de ida, por exemplo) leva cerca de 31 minutos, seria necessário que diversos trens operassem simultaneamente, em circulação contínua, ou que cada composição comportasse mais passageiros. Ainda assim, são essas as informações que constam no projeto apresentado pelo Governo do Estado à União.

Embora exista um projeto conceitual elaborado a partir do estudo de 2019, os projetos básico e executivo ainda não foram desenvolvidos. O traçado está definido, mas o projeto carece de Estudo de Viabilidade Técnico-Operacional, Econômico-Financeira e Ambiental (EVTEA), além de estimativas de custo (CAPEX e OPEX). O Governo alertou que os estudos de demanda também precisarão ser atualizados.

Na época, o Governo do Estado previa a realização de um Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI), permitindo que o poder público atraia subsídios da iniciativa privada para viabilizar a parceria. A expectativa é que o financiamento para o desenvolvimento e operação do sistema venha justamente da iniciativa privada.

Os trajetos propostos, no entanto, geram dúvidas. O traçado contempla apenas o Terminal de Carapina na Serra, o que exige justificativa, já que a maior concentração populacional do município — e em expansão — está na região de Laranjeiras.

Trajetos propostos:

Rota principal: Terminal Carapina (Serra); BR-101; Avenida Fernando Ferrari; Leitão da Silva; Cezar Hilal; Avenida Vitória; Princesa Isabel; Governador Bley; Getúlio Vargas; Elias Miguel; Alexandre Buaiz; Viaduto Gilson Félix; Avenida Roberto Ewaldo até o Terminal Rodoviário de Vitória.

Ramal: Avenida Fernando Ferrari, cruzamento com Adalberto Simão Nader, seguindo até o Aeroporto de Vitória.

Atualmente, o Sky Shuttle é desenvolvido pela empresa chinesa BYD e ainda não está em operação no Brasil. Há projetos em estudo em cidades como Campinas (SP), que planeja ligação com o Aeroporto de Viracopos, e Florianópolis (SC), onde o sistema foi apresentado como alternativa para a mobilidade urbana, embora sem avanços concretos.

Ou seja, trata-se de um projeto novo não só para o Espírito Santo, mas para todo o país. Isso pode ser positivo, por representar inovação, mas também levanta dúvidas sobre sua viabilidade, especialmente em uma região de porte médio como a Grande Vitória. Na prática, é uma ideia pensada em 2019 que agora entra em um estudo nacional — ou seja, ainda distante de ser implementada.

Por outro lado, é justo lembrar que obras como a Terceira Ponte e o Contorno do Mestre Álvaro também foram projetos considerados distantes no passado — e hoje são realidade. No setor público brasileiro, macroprojetos de infraestrutura costumam levar tempo até que encontrem as condições políticas, técnicas e financeiras para sair do papel.

Quais expectativas?

Iniciativas como o Estudo Nacional de Mobilidade Urbana, do Governo Federal, podem resultar em obras concretas. Na Serra, por exemplo, a Avenida Norte-Sul saiu do papel no final dos anos 1980 após ser apresentada em Brasília e inserida no Programa de Aglomerados Urbanos Brasileiros (AGLURB), do Governo Federal da época do presidente José Sarney. O Estudo Nacional de Mobilidade Urbana, associado ao Novo PAC, segue uma lógica semelhante.

O Governo do Espírito Santo precisa da mão Federal, embora articulado com as Prefeituras tem realizado investimentos robustos na Grande Vitória para mitigar os efeitos do adensamento populacional. Desde sua concepção, em 1996, a integração urbana da Grande Vitória avançou. Naquele momento, o sistema Transcol surgiu como uma alternativa viável e, apesar das críticas, é considerado um modelo de sucesso em comparação com outras regiões do país. No entanto, novas alternativas precisam ser apresentadas para dar continuidade ao processo de integração metropolitana e para isso o Governo Federal precisa estar presente já que a maior quantidade de dinheiro público está em Brasília.

Hoje, no horário de pico de uma sexta-feira, pode-se levar até 1h40 para sair de Laranjeiras, na Serra, e chegar à Praia da Costa, em Vila Velha — um trajeto de pouco mais de 20 km. Isso é uma barreira para o crescimento conjunto das cidades e da concepção metropolitana dos maiores municípios do Espírito Santo.

  • Sem tempo para ler? Aqui vai um resumo em 10 perguntas e respostas para te ajudar a economizar tempo:

1. Por que a Serra pode receber investimentos federais em mobilidade urbana?
Porque o Governo do Espírito Santo apresentou projetos estratégicos ao BNDES dentro do Estudo Nacional de Mobilidade Urbana.

2. O que é o Estudo Nacional de Mobilidade Urbana?
É uma iniciativa do BNDES e do Ministério das Cidades para identificar e viabilizar projetos de transporte público nas principais regiões metropolitanas do país.

3. A Grande Vitória foi selecionada para o estudo?
Sim. Foi uma das 21 regiões escolhidas por atender critérios técnicos, como ter população conurbada superior a 1 milhão de habitantes.

4. Quais projetos para a Serra foram apresentados?
A implantação do sistema BRT (Bus Rapid Transit) e o projeto do Sky Shuttle, um monotrilho elevado automatizado.

5. Como está o projeto de BRT na Grande Vitória?
O BRT prevê três fases, conectando Vitória, Vila Velha, Cariacica e Serra. A fase que inclui a Serra ainda carece de projetos básico e executivo.

6. O que é o Sky Shuttle?
É um sistema de monotrilho elevado e automatizado que ligaria Vitória à Serra, passando pelo Aeroporto, com trajeto de 18,3 km.

7. O Sky Shuttle já existe em funcionamento no Brasil?
Não. Existem apenas estudos em cidades como Campinas (SP) e Florianópolis (SC), mas nenhum sistema está em operação.

8. Há problemas de viabilidade no projeto do Sky Shuttle?
Sim. Para atender à demanda prevista, seria necessário um número de viagens por hora considerado inviável com o tempo de trajeto atual.

9. Esses projetos já têm financiamento garantido?
Ainda não. O governo federal não dispõe de recursos para todos os projetos identificados, e a execução dependerá de critérios técnicos e articulação política.

10. Por que há urgência em melhorar a mobilidade na Grande Vitória?
Porque o tempo de deslocamento entre cidades como Serra e Vila Velha pode chegar a 1h40 em horários de pico, prejudicando o crescimento integrado da região.

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