Ainda é cedo para afirmar que o jogo virou, mas, dois anos depois, o deputado estadual Vandinho Leite volta a ser cogitado como candidato na eleição interna da Assembleia Legislativa do Espírito Santo. Desta vez, informações de bastidores indicam que ele é o “queridinho” do grupo político do atual governador Renato Casagrande, que possui significativa influência no processo. Em contrapartida, o atual presidente, Marcelo Santos, continua suas articulações, aparentemente desconectadas do Palácio Anchieta, apesar de ter contado com seu apoio decisivo na eleição para o cargo dois anos atrás.
A posição de Marcelo Santos tornou-se bem mais vulnerável após seu explícito alinhamento com grupos de oposição ao governador Renato Casagrande na eleição de 2024, o que pode ter repercussões negativas agora em 2025. Esses movimentos foram mal recebidos pelo Palácio Anchieta. Interlocutores internos chegaram a interpretar a postura de Marcelo como uma espécie de “traição”, especialmente em relação à eleição na Serra. Nessa disputa, o atual presidente apoiou Pablo Muribeca para prefeito, alinhando-se ao projeto do Republicanos, maior força de oposição a Casagrande no Espírito Santo, que enxergou na Serra uma oportunidade estratégica para enfraquecer o grupo do governador com vistas às eleições de 2026.
Ao analisar em retrospectiva, parece evidente que apoiar grupos interessados em derrubar aquele que o levou à presidência foi uma má escolha para Marcelo Santos. Agora, para mitigar esse erro de cálculo, está em curso uma campanha de desinformação voltada a desestabilizar Vandinho Leite. A estratégia consiste em projetar Marcelo como um presidente que garantiu estabilidade ao governo, enquanto tenta lançar dúvidas sobre Vandinho, associando-o ao ex-governador Paulo Hartung.
Esse esforço tem sido conduzido por blogs alinhados ao prefeito Lorenzo Pasolini, do Republicanos, o que evidencia ainda mais o interesse da oposição a Casagrande em manter Marcelo Santos na presidência e evitar a ascensão de Vandinho.
Além disso, a fragilidade dessa narrativa é evidente. Embora mais jovem, Vandinho já possui experiência política suficiente para se credenciar à presidência da Assembleia, onde atua desde os 26 anos. Ele vem exercendo um papel de liderança informal entre os deputados há algum tempo, em um cenário em que a Assembleia Legislativa tem se mantido politicamente estável por quase 20 anos. Essa estabilidade é uma conquista coletiva e não depende exclusivamente de Marcelo Santos. Nesse contexto, renovação e alternância são fatores importantes para a longevidade desse equilíbrio.
Quanto à tentativa de associar Vandinho a Paulo Hartung, essa estratégia parece desgastada. Não apenas Vandinho já esteve alinhado ao ex-governador no passado, mas também toda uma geração de políticos capixabas, incluindo o próprio Casagrande. O que se sabe de concreto é que Paulo Hartung tem simpatia por Pasolini, que, por sua vez, apoia explicitamente Marcelo Santos.
Outro ponto expressivo nessa contabilidade é que Vandinho é um nome amplamente aceito pelo vice-governador Ricardo Ferraço. Este, por sua vez, pode assumir o Governo caso Casagrande renuncie ao mandato para disputar uma cadeira no Senado, o que possibilitaria uma transição mais fluida. Trata-se de um grupo que vai precisar estar muito alinhado entre si, e hoje, Marcelo Santo é visto com muita desconfiança.
Com o fim das festividades de fim de ano, a eleição da Assembleia desponta como o principal evento político antes do carnaval. A tendência é de aumento nas tensões. Ainda é cedo para afirmar que o jogo virou, mas a conta chegou para o atual presidente. Em outras palavras, a pressão está sobre Marcelo Santos. Por outro lado, Vandinho teve um desempenho estratégico em 2024: foi leal, tomou decisões em alinhamento com deputados e o Palácio Anchieta, e agora encontra-se em uma posição confortável, que lhe permite tranquilidade tanto para disputar a presidência quanto para negociar uma composição vantajosa.
