
Setores econômicos e governamentais estão em alerta diante da possibilidade de a ArcelorMittal suspender o investimento de R$ 4 bilhões previsto para o município da Serra, na implantação de um Laminador de Tiras a Frio (LTF) — projeto que marcaria um novo ciclo na cadeia do aço no Espírito Santo. A informação tem sido reiterada por Jorge Oliveira, presidente da ArcelorMittal Brasil.
Segundo o executivo, uma condição fundamental para manter o projeto em solo capixaba é a prorrogação, por parte do Governo Lula, das tarifas de importação sobre o aço, especialmente o proveniente da China. O objetivo é preservar a competitividade da siderurgia nacional frente ao produto importado. Como o governo federal ainda não sinalizou se manterá ou não as cotas tarifárias, o clima no Espírito Santo é de preocupação crescente.
O governador Renato Casagrande (PSB) esteve na Serra na manhã desta segunda-feira (19) e, em conversa com a coluna, confirmou que o tema é tratado com grande preocupação pelo Executivo estadual. Segundo ele, já houve contato com o Governo Lula através do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), cobrando uma resolução favorável à indústria nacional.
“Nos preocupa, sim. Falei inclusive com o vice-presidente Alckmin neste final de semana, porque uma das formas de reduzir esse risco é o Governo Federal manter o imposto de importação sobre o aço vindo de outros países. Precisamos que essa medida seja renovada. O prazo vai até o fim deste mês. Temos muitas preocupações, mas tenho convicção e esperança de que o governo vá editar a medida”, disse Casagrande ao Jornal Tempo Novo.
O governador se refere às cotas tarifárias de até 25% sobre a importação de 11 tipos de produtos de aço e ferro, adotadas por Lula em 2024 após pressão do setor siderúrgico, especialmente diante do avanço do aço chinês no mercado brasileiro. Com a desaceleração da economia chinesa, empresas daquele país passaram a despejar aço subsidiado em mercados como o Brasil, pressionando a indústria local.
A urgência do tema aumentou após os chamados “tarifaços” do presidente Donald Trump nos Estados Unidos, que impactaram as balanças comerciais globais. Os EUA, inclusive, são o maior importador do aço produzido pela ArcelorMittal.
“Acho que há chance de prorrogação [das cotas]. Falei com o vice-presidente, então estamos na expectativa. Se resolvermos isso, poderemos continuar com nosso plano estratégico de investimento”, completou Casagrande.
Ou seja, o governador associa diretamente o futuro do investimento bilionário na Serra à decisão do presidente Lula sobre as cotas tarifárias. Segundo ele, o Governo do Espírito Santo já demonstrou institucionalmente sua preocupação e interesse na manutenção das barreiras contra o aço chinês.
Na Serra, município diretamente beneficiado pelo projeto, a expectativa é ainda maior. O aporte da ArcelorMittal é aguardado há décadas e poderia posicionar o município em um novo patamar industrial, com a chegada de novas tecnologias, geração de empregos qualificados e expansão da cadeia econômica local.
O projeto prevê a implantação de uma nova linha de laminação de tiras a frio e uma linha de revestimento contínuo. Desde sua fundação, em 1983, a ArcelorMittal Tubarão (antiga CST) sempre se concentrou na produção de placas de aço. Com o novo investimento, a empresa passaria a produzir diretamente produtos acabados voltados a setores estratégicos como indústria automotiva, eletrodomésticos e energia solar
Isso fecharia o ciclo industrial da planta capixaba, agregando valor ao aço produzido na Serra e consolidando a região como uma referência ainda mais forte no setor siderúrgico nacional e internacional.
Jorge Oliveira reforçou que a combinação de tarifas dos EUA contra o aço brasileiro e a possível eliminação das cotas contra o aço chinês no Brasil pressiona diretamente os planos de expansão da empresa no país, especialmente o projeto da Serra.
O adiamento ou cancelamento desse projeto representaria um duro golpe à economia capixaba e às expectativas da Serra. Na prática, o maior investimento privado da história recente do município está hoje ameaçado pela guerra comercial global e por decisões que estão nas mãos do governo federal.