A inédita decisão de um prefeito da Serra, no exercício do cargo, de não tentar a reeleição foi pessoal de Sérgio Vidigal. Em abril de 2024, ele anunciou essa escolha em um grande evento para apoiadores, no qual destacou aspectos de caráter familiar. Trata-se de uma decisão compreensível, já que o “peso do poder” na Serra carrega consigo a responsabilidade sobre a vida de mais de meio milhão de pessoas.
Entretanto, ainda que se reconheça a pessoalidade da decisão, ao se observar friamente a trajetória político-administrativa do município, deixar de contar com um quadro como Sérgio Vidigal (o prefeito mais longevo da história da Serra, que governou a cidade em seu momento mais desafiador) sem o exercício de um mandato que promova o município representa um desperdício de ativo político.
Quadros políticos como Vidigal são difíceis de serem formados, especialmente na modernidade líquida, que transformou parte do exercício político em mera espetacularização no palco digital das redes sociais, muitas vezes desprovida de densidade ética, compromisso de longo prazo e capacidade de enfrentar causas estruturais, fenômeno que Vidigal costuma resumir, em tom ácido, como “política de narrativa”.
Em meio a essa crise representativa que atravessa o mundo, a Serra dispõe de um medalhão como Vidigal, no auge de suas faculdades mentais e psicoemocionais, detentor da maior memória histórico-administrativa do município, líder de um grupo que governa a cidade e alinhado ao grupo que governa o Estado. É justamente esse cenário que começa a ser avaliado por pessoas próximas ao ex-prefeito.
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Para 2026, projeta-se que Serginho Vidigal deva ser candidato a deputado federal. Filho mais novo de Sérgio Vidigal, trata-se de um projeto que o jovem médico vem maturando há anos. No entanto, esse cenário não parece necessariamente excluir a hipótese de o pai se inserir em um processo eleitoral próprio; ao contrário, pode até produzir um efeito benéfico, em que um impulsione o outro, dada a capilaridade do sobrenome Vidigal no maior colégio eleitoral capixaba.
Sobretudo se se confirmarem as previsões de que Serginho deixe o PDT em busca de uma legenda que lhe ofereça melhores condições partidárias, abrindo ao partido a oportunidade de se debruçar sobre uma eventual candidatura de Vidigal pai. Embora Sérgio Vidigal não tenha sequer sugerido, até o momento, a intenção de disputar a eleição que se avizinha, nos bastidores aliados elencam opções à mesa caso esse cenário se concretize. Em uma hipótese como essa, evidentemente, Sérgio Vidigal não disputaria o cargo de deputado federal, posição aparentemente já consolidada pelo filho.
Vidigal possui estatura política suficiente para galgar uma vaga de vice na chapa do MDB, que tem como pré-candidato Ricardo Ferraço, mas esse debate, neste momento, extrapola os limites partidários do PDT. No que depender apenas do partido e de Vidigal, estariam sobre a mesa possibilidades como uma candidatura ao Senado ou a disputa por uma das 30 vagas de deputado estadual.
Uma eventual candidatura ao Senado exigiria de Vidigal um deslocamento contínuo a Brasília, realidade que parece lhe causar certo desconforto, já que ele tem externado o desejo de levar uma vida mais tranquila, próxima da família e dos netos. Ou seja, qualquer movimento nesse sentido não parece estar em jogo neste momento.
Já uma candidatura a deputado estadual representaria um passo político considerado seguro, embora, como toda eleição, carregue nuances e desafios, nada, contudo, que Vidigal e seu grupo não conheçam há décadas.
Um projeto dessa natureza não diminuiria alguém como Vidigal; ao contrário. Em um contexto no qual parte expressiva dos grandes projetos estruturantes da Serra depende diretamente do Governo do Estado, contar com uma liderança com as características de Vidigal, atuando como agente de desenvolvimento, seria de extrema importância para o município. Atualmente, o Estado é o principal vetor de investimentos para além do Tesouro municipal. A Serra tem conseguido realizar grandes obras, parte delas por meio de operações de crédito, instrumento que, evidentemente, possui limites.
Além disso, no âmbito do PDT, em uma hipótese na qual Vidigal disputasse uma vaga de deputado estadual, a avaliação interna é de que haveria forte movimento de novas filiações, já que, em tese, Vidigal reúne condições para atuar como puxador de votos, carregando consigo outros nomes competitivos nas urnas. Vidigal não se manifestou sobre esse cenário até o momento, mas é fato que existe, dentro do partido e entre seus aliados, o desejo de que esse ativo político seja recolocado em jogo. Afinal, essa “aposentadoria” precoce (em aspas mesmo, já que ele nunca disse que estaria se aposentando das urnas), embora desejada por Vidigal, pode se revelar contraproducente para o PDT, para a Serra e para o Espírito Santo.

