Nesta segunda parte da entrevista com o deputado estadual Bruno Lamas (veja a primeira – focada em política e eleição, clicando aqui) o tema é gestão. Recentemente o PSB com apoio do Instituto João Mangabeira promoveu uma série de eventos presenciais e a distância com objetivo de produzir um diagnóstico técnico a respeito dos problemas e soluções para a cidade, especialmente neste contexto de crise sanitária. O resultado, de acordo com Bruno é preocupante.
Ele apontou problemas econômicos: “as empresas estão indo embora da Serra”, devido à “demora e burocracia”; além de atrasos no quesito inovação e tecnologia que rebate diretamente na piora dos serviços prestados na Saúde e Educação. Ele também criticou a gestão da Prefeitura em torno da Guarda Civil Municipal, como falta de uma sede própria e baixa remuneração.
Por fim, Bruno cobrou nominalmente dos deputados Sérgio Vidigal (PDT) e Amaro Neto (Republicanos) a destinação de emendas para a Serra: “onde eles estão nessa pandemia?”, questionou.
Qual é a Serra que vamos ter no pós-pandemia?
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É o momento mais difícil da nossa história, que exige muito de nós e nos ensinou muito também. Entretanto, apesar de toda dificuldade, tenho convicção que o ES ainda está melhor do que a média nacional. Consequentemente a Serra também. Agora o poder público – de todas as esferas, precisa ajudar os empreendedores que estavam na ativa, cumprindo com suas responsabilidades, gerando emprego, trabalho e renda. Esses empreendedores precisam de ajuda. Estou me referindo à renda, a crédito, para pagar em 30 anos. Até porque o impacto maior da pandemia está na extrema pobreza, e só podemos superar com trabalho, emprego e renda na veia.
Para isso a Prefeitura com certeza vai necessitar de ajuda dos governos federal e estadual. Acredita que essa ajuda vai vir?
Em relação ao governo do Estado, já está acontecendo. Quando você mantém os investimentos ativos movimenta a economia. Hoje temos pelo menos oito grandes obras estaduais na Serra: Av. Talma Rodrigues, que liga Laranjeiras a Jacaraípe, são R$ 9 milhões; Na norte sul de Barcelona a Laranjeiras foram R$ 3 milhões; O hospital Materno Infantil, os equipamentos já foram comprados, mais R$ 9 milhões, e agora o governo assume a gestão; Teremos a revitalização da Rodovia ES010, meu DNA, meu suor. É uma obra de R$ 49 milhões. Além disso, temos a reconstrução da escola Aristóbulo Barbosa Leão; e obras em várias escolas, além de investimentos da Cesan. Tudo isso ajuda a movimentar a economia. Mas precisa de algo mais, e o Estado prepara um pacote econômico de apoio à população.
Você pode detalhar do que se trata esse pacote?
O ES é o único estado que tem seu próprio programa de complementação de renda, que é o Bolsa Capixaba. Hoje, 25 mil famílias do Estado recebem o Bolsa Família e recebem o Bolsa Capixaba. A proposta do governo é quadruplicar esse valor para as pessoas que estão vulneráveis. Mas o desafio maior, além de ampliar os benefícios, é tirar as pessoas da situação de extrema pobreza. E a única forma disso é por meio do trabalho, emprego e renda.
E como vai fazer isso num cenário de queda econômica?
Primeiro precisamos qualificar essas pessoas. Dar o suporte com benefício, mas precisa inseri-la no mercado de trabalho. Aí eu entro em outra seara que a cidade precisa superar: a Serra está perdendo empresas. É algo muito sensível e sério que identificamos durante os seminários. A Wine, por exemplo, levou a maior parte da sua produção para Vitória. A EDP levou sua sede para Vitória; o município [Serra] perdeu a arrecadação de ISS. Nós precisamos dar trabalho, emprego e renda para as pessoas. O município precisa ser atrativo a novos negócios.
Essa é uma demanda antiga de empresários…
Eu ouvi isso em todas as regiões que nós visitamos. A burocracia da máquina, carência de material humano; não há uma padronização, inclusive metropolitana. As regras de Vitória são diferentes das regras da Serra, por exemplo. A dificuldade de se empreender na cidade precisa ser solucionado. E é por da tecnologia à informação que vamos conseguir. A cidade precisa ser mais inovadora; a inovação e a tecnologia é uma coisa que não existem na Serra.
Sobre tecnologia, a pandemia escancarou a desigualdade digital no país. Temos 130 unidades de educação, mas sem uma tecnologia que conecte o aluno à escola. Qual sãos os passos que precisam ser dados?
As diferenças entre a estrutura da educação pública e privada ficaram claras durante a pandemia. A tecnologia não existe na escola pública. Os alunos ficaram sem material didático, sem aulas; o município não conseguiu reagir com a velocidade necessária, e os alunos ficaram abandonados. A tecnologia e a informação chegaram para ficar, e dentro da escola se tornam indispensáveis, é fator de virada de chave, que pode colocar a Serra no caminho do futuro e de fazer justiça social dentro da nossa educação.
Como prefeito, o que é possível fazer neste sentido?
Compra de equipamentos, plataformas, internet de qualidade nas escolas, bons laboratórios de informática, núcleos de informação e tecnologia para incentivar a pesquisa, que pode e deve começar desde a educação infantil, ensino médio e superior.
E na Saúde? O que o estudo feito pelo PSB em parceria com o Instituto João Mangabeira identificou como um problema?
A população quer mais médicos; também identificamos que o acolhimento ainda é ruim. Há uma confusão muito grande sobre o papel do Estado e do município no que tange à saúde. As especialidades são as grandes demandas; o Estado deve muitas consultas aos municípios, e isso não é colocado com clareza. Além de modernizar, informatizar, contratar mais médicos, ficou claro para nós que o Programa de Estratégia da Família (PSF), não está em todas as regiões. O município precisa investir e ampliar o PSF porque é o médico e a equipe de saúde indo à casa das pessoas; e vai aliviar a carga nas policlínicas, nas UPAs e nos hospitais.
Além dessas ações citadas, que fazem parte do planejamento do PSB para diversas áreas de atuação, tem alguma outra que queira comentar?
Tivemos diálogo com representantes da Guarda Municipal. Eles não tem uma base, por exemplo. A transferência de turno de um guarda para outro é feita em local público. Imagina trocar informações sobre sigilosas em uma local publico? Há uma defasagem na remuneração, a média salarial não chega a R$ 1.500. Percebemos outro problema: a gestão deveria estar sendo feita por um servidor efetivo da guarda municipal, mas ainda é feita por um PM. Não há uma comunicação entre comando e a base; além de um armamento muito defasado.
Qual é a sua avaliação sobre o governo Bolsonaro, especialmente a forma como está lidando com a pandemia?
Vou me ater à saúde. O governo não conseguiu liderar e nem unificar o país. A linguagem como o Governo Federal fala não é a mesma dos governadores e isso é muito ruim. Outra coisa que me deixou, como cidadão, bem chateado, preocupado, é o fato de nós enfrentarmos a pandemia sem um ministro da saúde. Nós temos um general, que é especialista em logística cuidando de uma pasta das mais importantes e em plena pandemia. Eu resumo a minha opinião sobre o Governo federal dessa forma.
Qual balanço você faz desse retomada do mandato de deputado?
Quero uma reflexão com os serranos. Onde as principais lideranças políticas estão nesse momento mais delicado da nossa história? A cidade tem representantes na Assembleia, na Câmara dos Deputados, tem um senador que foi extremamente bem votado na cidade. Na nossa simplicidade, o nosso último gesto foi R$ 511 mil depositados na conta da prefeitura por meio de emenda minha. Sempre destinei emendas para as escolas, esse ano a prioridade foi à saúde para enfrentar a pandemia.
E em termos de projetos?
O Governo está na iminência de sancionar um projeto meu, obrigando os planos de saúde a cobrirem os testes do coronavírus. Tenho sido um deputado importante no diálogo do município com o governo do Estado. A obra da Talma Rodrigues, por exemplo, faltavam 30 dias para vencer a validade da licitação. Ela não aconteceria. Mas fomos lá e intercedemos, e o governador autorizou a assinatura do convênio imediatamente. Ai eu pergunto, onde estão as outras lideranças da cidade?
A quem se refere quando aponta essa ausência?
Eu me refiro ao Vidigal (PDT), ao Amaro Neto; aos meus colegas deputados estaduais. Emenda parlamentar é algo que depende única e exclusivamente do parlamentar. Então priorizar outros municípios é uma decisão do parlamentar. Mas, e a Serra, que foi a base eleitoral? Eu fiz o meu dever de casa; me fiz presente, com ações, com diálogo, fazendo a ligação com o Governo do Estado, e com recurso financeiro, os diversos que pude citar aqui agora, inclusive a emenda parlamentar.

