A Secretaria de Saúde da Serra revelou, nesta quinta-feira (15), que precisou atender 1.518 moradores de Vitória em suas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) durante o mês de janeiro. Esse número sugere uma preferência notável dos habitantes da capital do Espírito Santo para buscar serviços médicos de emergência no município vizinho, a Serra.
Vale ressaltar que Vitória ganhou prêmio, no ano de 2023, de cidade com melhor saúde do Brasil.
A sigla SUS, que representa o Sistema Único de Saúde, por si só delineia um princípio fundamental: a universalidade dos serviços, garantindo acesso igualitário à saúde sem discriminação de indivíduos ou localidades. Isso implica que um cidadão de Roraima tem o direito — e deve ser assegurado — de receber atendimento no Espírito Santo, em qualquer uma de suas cidades, conforme a necessidade. Da mesma forma, um residente de Vitória é legitimado a ser atendido no município da Serra.
Contudo, o SUS enfrenta desafios importantes relacionados à alocação de recursos. Apesar do sistema ser integrado, existem disparidades nos orçamentos destinados à saúde entre os diferentes níveis governamentais — União, estados, Distrito Federal e municípios —, o que repercute diretamente na qualidade e na eficiência dos serviços prestados.
Para ilustrar a questão com um exemplo concreto: os recursos financeiros utilizados pela Prefeitura da Serra no atendimento a 1.518 moradores de Vitória foram descontados do orçamento inicialmente previsto para a saúde dos próprios cidadãos serranos. Vale destacar que esse desembolso não é compensado, ou seja, a cidade não recebe reembolso pelo atendimento prestado aos moradores de outras localidades.
Moradores de Vitória sendo atendidos na Serra
Exemplificado isso, vamos aos dados. A Serra possui três Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), localizadas em Carapina, Castelândia e Serra Sede. Nesses três locais, foram atendidos 1.518 moradores de Vitória somente durante o mês de janeiro.
Dentre essas UPAs, a de Castelândia destacou-se como a mais procurada pelos pacientes da capital, atendendo a 882 moradores de Vitória ao longo de 31 dias.
Segue-se a UPA de Carapina, com 495 pacientes atendidos, e a UPA da Serra Sede, onde foram registrados 109 atendimentos a indivíduos vindos de Vitória.
Além disso, o Hospital Materno Infantil da Serra também contribuiu para esse total, recebendo 32 crianças da capital, conforme apurado pelo Jornal Tempo Novo.
Superlotação e demora nas UPAs da Serra
Embora a maior parte dos atendimentos nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da Serra sejam destinados a seus moradores, os dados da Secretaria de Saúde apontam que a presença de pacientes de outras cidades contribui significativamente para a superlotação dessas unidades. Tal cenário acarreta atrasos nos atendimentos, afetando diretamente a eficiência do serviço prestado.
Para exemplificar, se um morador da Serra, aguardando atendimento com uma pulseira de classificação verde, é preterido por um paciente de Vitória, que chega com uma pulseira laranja, indicativo de uma situação mais urgente, o morador serrano terá seu tempo de espera prolongado. Esse processo de triagem, embora necessário para garantir a atenção aos casos mais graves primeiro, resulta em demoras adicionais para os pacientes em espera.
Além das questões relacionadas à capacidade de atendimento e tempo de espera, há também implicações financeiras consideráveis. A cidade da Serra, com seu próprio orçamento para a saúde, enfrenta o desafio de cobrir os custos gerados pelo atendimento de pacientes de outros municípios, sem qualquer forma de reembolso.
Isso significa que os recursos destinados à saúde dos cidadãos serranos são, em parte, utilizados para suprir as demandas dos moradores de outras localidades, sem compensação financeira, impactando o orçamento municipal e a disponibilidade de serviços para a própria população.
Enquanto a Serra possui a maior estrutura de saúde do Espírito Santo, ficando atrás apenas do Governo do Estado, e possuindo três UPAs, Vitória possui apenas dois Prontos-Atedimentos (PAs).