O deputado Vandinho Leite, que possui domicílio eleitoral na Serra, não demorou a responder à movimentação do prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo. Nesta terça-feira (09), Vandinho reuniu lideranças do PSDB para articularem, em bloco, o processo de desfiliação partidária, pedidos que já foram confeccionados e apresentados ao partido.
Na semana passada, Arnaldinho esteve em Brasília e assumiu o comando estadual do PSDB por meio de um acordo direto com o deputado federal Aécio Neves, situação que gerou forte insatisfação no diretório capixaba, até então liderado por Vandinho.
Esse movimento ‘tratorou’ as lideranças locais, que não foram consultadas, e as colocou em uma situação conflitante, já que, até então, o PSDB estava alinhado ao vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) para a construção de uma candidatura ao Governo do Estado em 2026, projeto que pode entrar em choque com os interesses de Arnaldinho, que também pretende disputar o cargo.
Estavam presentes na reunião 15 lideranças, entre prefeitos, vice-prefeitos e parlamentares. São eles: o prefeito e o vice-prefeito de Laranja da Terra, Joadir Lourenço e Brandão; o vice-prefeito de Muqui, Zé Marcos; o vice-prefeito de São José do Calçado, Maurício; o vice-prefeito de Ecoporanga, Valter Félix; a vice-prefeita de Alegre, Kaydman; o vice-prefeito de Bom Jesus do Norte, Marcão Bernardes; Prefeito e Vice-Prefeito de João Neiva, Micula e Glauber Tonon respectivamente; o prefeito de São Gabriel da Palha, Guerra; o prefeito de Santa Teresa, Kleber Medici; o vice-prefeito de Alfredo Chaves, Cleber; o prefeito de Mantenópolis, Dr. Lúcio; além dos deputados Mazinho dos Anjos e o próprio Vandinho Leite.
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O grupo utilizou o artigo 24 da Resolução nº 23.596/2019, que trata sobre desfiliação partidária, para embasar o pedido coletivo. Entre os motivos apresentados estão alterações relevantes no estatuto do PSDB que, segundo eles, restringiram direitos, concentraram poderes e comprometeram a democracia interna [hipótese reconhecida pelo TSE como justa causa para desfiliação].
Também foi apontada a supressão de convenções e da participação da base, o que, na avaliação do grupo, inviabilizou o processo democrático e a autonomia dos diretórios municipais. Outro argumento citado foi “a grave crise institucional no PSDB nacional”, marcada por instabilidade, disputas internas e mudanças abruptas de orientação política, rompendo a identidade que motivou as filiações. Por fim, os líderes mencionaram intervenções partidárias que teriam afetado diretórios e reduzido a representatividade local, situação igualmente reconhecida pela Justiça Eleitoral como motivo legítimo para saída da legenda.
É evidente que cada um deles tem uma situação distinta de desfiliação. No caso dos prefeitos e vice-prefeitos, a desfiliação partidária ocorre sem risco de perda de mandato. Isso porque, para os cargos do Executivo, a Justiça Eleitoral entende que o mandato pertence ao eleito, e não ao partido, permitindo a troca de legenda a qualquer momento. Já para os deputados estaduais, a regra é diferente: a mudança de partido sem justa causa pode resultar na perda do mandato, exceto em situações previstas na legislação. Ou seja, no caso de Vandinho e Mazinho, será necessário que a justa causa seja reconhecida legalmente antes que a saída do partido se concretize.
Esse já era um movimento aguardado, uma vez que Arnaldinho atropelou as lideranças locais. Além disso, Vandinho não é um personagem secundário nesse contexto. Líder do governo Casagrande na Assembleia Legislativa, ele é um dos aliados mais entusiastas de Ricardo Ferraço na disputa pela sucessão. Também é conhecido no meio político que Aécio Neves e Ricardo Ferraço nutrem dificuldades de relacionamento desde o período em que foram senadores juntos.
Se já era grande a desconfiança do meio político capixaba em torno de Arnaldinho, agora a situação fica ainda mais evidente. Publicamente, Casagrande e Ferraço tentaram não polemizar, mas o desconforto é claro no meio político. Arnaldinho foi exitoso na obtenção da sigla, mas o método utilizado não foi bem recebido e pode, inclusive, acelerar o anúncio público de Casagrande em favor de Ferraço. Cabe ressaltar que, se Casagrande for candidato ao Senado, como as previsões apontam, ele precisará renunciar ao cargo e quem assumirá será exatamente Ferraço, podendo disputar a reeleição.

