
A crise hídrica, que é uma questão estruturante e tende a se agravar, embora seja um problema global da humanidade, representa também um desafio urgente para a indústria capixaba. Na Grande Vitória, as duas maiores consumidoras individuais de água são a Vale e a ArcelorMittal, que têm buscado alternativas, já que, sem água, não conseguirão manter seus níveis de produção.
Por mais anacrônico que pareça, uma das fontes de captação de água para uso industrial ainda é o rio Santa Maria da Vitória — o mesmo que abastece mais de 700 mil pessoas, em sua maioria moradores da Serra. O rio, que sofre há anos com poluição e baixa vazão, é o primeiro a sentir os efeitos do desequilíbrio no regime de chuvas. A escassez é um problema óbvio, mas os períodos de chuvas intensas também causam danos, pois sedimentam o leito e dificultam o tratamento da água.
Atentas a esse cenário crônico e prevendo agravamentos futuros, Vale e ArcelorMittal têm investido em soluções como o uso de água reciclada — ou seja, água de esgoto tratada para fins industriais. E, nesta semana, mais um passo foi dado nesse sentido.
A Vale e o consórcio Águas de Reúso de Vitória (subconcessionária da Cesan) assinaram, nesta quarta-feira (09), um Memorando de Entendimentos (MoU) para a realização de uma avaliação conjunta sobre o fornecimento de água reciclada, proveniente do esgoto da capital, para uso industrial. A expectativa é que a Estação de Produção de Água de Reúso (EPAR), que será construída pela subconcessionária, forneça pelo menos 50 litros de água por segundo para a empresa. Para efeito de comparação, esse volume — se fosse água potável — seria suficiente para abastecer uma cidade de 30 mil habitantes.
A relevância do tema é tamanha que o ato foi realizado no Palácio Anchieta, com a presença do governador Renato Casagrande; do presidente da Cesan, Munir Abud; do diretor de Pelotização da Vale, Rodrigo Ruggiero; e do CEO da GS INIMA Brasil (empresa que opera a subconcessão), Paulo Roberto de Oliveira.
“Esse é um investimento de aproximadamente R$ 250 milhões, com início das operações previsto para 2027. Vamos ter a capacidade de utilizar quase metade do esgoto proveniente de Vitória, transformando-o em água para a indústria. Essa conquista é importante para o meio ambiente e também para o consumo humano, pois reduz a necessidade de captar água potável para esse fim. Cuidar, economizar e fechar o ciclo da água é uma medida responsável por todos nós”, afirmou o governador.
No ano passado, as partes envolvidas já haviam assinado um protocolo de intenções para realização de estudos visando alternativas à redução do consumo industrial de água potável nas atividades do Complexo de Tubarão. “Esse MoU é a continuidade dessas tratativas”, disse o diretor de Pelotização da Vale, Rodrigo Ruggiero.
O presidente da Cesan, Munir Abud, enfatizou que a parceria consolida o Espírito Santo como um estado protagonista na busca por soluções inovadoras para a segurança hídrica. “Utilizar água de reúso para fins industriais permitirá preservar a captação de água dos mananciais, priorizando o consumo humano. Isso representa um avanço em direção à sustentabilidade ambiental e econômica”, declarou.
O resultado dos estudos e das condições técnicas e operacionais necessárias para viabilizar o fornecimento de água deverá ser apresentado em até seis meses.