Serra registrou 27 mil atendimentos a pacientes de fora nas UPA’s — maioria veio de Vitória

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A Upa de Castelândia é a que mais atende pacientes de fora da Serra. Foto: Divulgação

O SUS, como o próprio nome sugere, é um sistema concebido para promover saúde pública sem olhar a quem. É reconhecido e admirado no mundo todo. No entanto, em uma região metropolitana como a Grande Vitória, há desafios que precisam ser enfrentados com responsabilidade e planejamento, especialmente nas UPA’s.

Isso acontece porque, embora o sistema seja único, os orçamentos são municipais. Eles são planejados e executados pelas prefeituras com base na população residente de cada cidade. Ou seja, o financiamento da saúde pública é fragmentado — e nem sempre compatível com a realidade do uso compartilhado entre municípios.

Nos últimos anos, a Serra avançou bastante em sua estrutura de saúde pública. Esse avanço, porém, não foi acompanhado na mesma medida por cidades vizinhas. Como resultado, vem se intensificando uma espécie de “turismo de saúde”: o crescimento expressivo do atendimento nas unidades mantidas pela Prefeitura da Serra a pacientes vindos de outros municípios.

Esse fenômeno é especialmente puxado por pacientes de Vitória, cidade que, apesar de figurar entre as melhores do Brasil em indicadores de saúde pública, não conta sequer com uma UPA 24 horas. Na prática, isso pressiona o sistema serrano, financiado pelos cofres municipais e, portanto, pelos próprios moradores da Serra.

A coluna obteve dados referentes ao período de janeiro a junho de 2025, ou seja, do primeiro semestre deste ano — e os números falam por si. Em apenas seis meses, a Serra realizou 27 mil atendimentos a pacientes de fora da cidade. Esses atendimentos ocorreram nas três UPA’s do município: Serra Sede, Castelândia e Carapina.

Ou seja, são três estruturas mantidas pela cidade, desde o pagamento de salários de médicos e enfermeiros até a oferta de medicamentos gratuitos, todos custeados pelos cofres municipais — e, portanto – novamente – pelos contribuintes serranos.

Todas funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana, não exigem encaminhamento para acesso aos serviços e são equipadas com raio-X, eletrocardiograma, laboratório de exames e leitos de observação. As UPAs podem resolver grande parte das urgências e emergências e custam milhões ao orçamento público da cidade da Serra.

Um em cada doze pacientes é de fora da Serra

De acordo com os dados repassados pela Prefeitura da Serra, o total de atendimentos realizados nas três UPAs (Serra Sede, Castelândia e Carapina) entre janeiro e junho de 2025 foi de 339.370 atendimentos. Desse total, 252.842 foram clínicos e 86.528 pediátricos, mostrando a alta demanda diária enfrentada pelas unidades de pronto atendimento do município.

Já a quantidade de atendimentos a pacientes de fora da cidade: foram 27.264 registros, o que representa 8,03% de todo o volume atendido no período. Ou seja, a cada 12 pacientes atendidos nas UPAs da Serra, um veio de outro município — a maioria deles de Vitória, segundo os dados consolidados do sistema Focus.

Esse número reforça a sobrecarga da rede municipal de saúde, que é financiada pela Prefeitura da Serra, mas absorve demandas da Região Metropolitana da Grande Vitória. Os dados mostram que a maior parte desse fluxo veio de:

FONTE: SISTEMA FOCUS , JAN – JUNHO DE 2025
UPA CARAPINA: DADOS A PARTIR DE MEADOS DE FEREVEIRO DE 2025, MÊS DE INICIO DA UTILIZAÇÃO DO SISTEMA FOCUS

Vale destacar que os dados da UPA de Carapina — justamente a unidade que mais recebe pacientes de Vitória — só começaram a ser computados em meados de fevereiro de 2025, o que indica que o número real de atendimentos a pacientes da capital e de outros municípios tende a ser ainda maior do que o registrado oficialmente no primeiro semestre.

‘Turismo de saúde’ – impacto maior é em Castelândia e Carapina

Evidentemente, pelas características geográficas e estruturais de cada UPA, esse chamado “turismo de saúde” não acontece de forma uniforme na Serra. Em Castelândia, que abriga a unidade mais moderna do município, o impacto é maior. Já Carapina vem em seguida: apesar de ser uma UPA mais antiga, sua localização estratégica — próxima à divisa com Vitória e ao terminal do Transcol — a torna altamente acessível para pacientes de outras cidades. Vamos aos dados:

Na UPA de Serra Sede, foram realizados 119.486 atendimentos entre janeiro e junho de 2025. Desse total, aproximadamente 3.392 foram destinados a pacientes de fora do município, o que representa cerca de 2,8% do volume total atendido na unidade.

Já na UPA de Castelândia, o cenário é mais expressivo: dos 114.782 atendimentos realizados, 13.319 foram a pessoas de fora da Serra — o equivalente a 11,6% do total da unidade. É, proporcionalmente, a UPA mais impactada pelo atendimento a não residentes.

Na UPA de Carapina, mesmo com os dados contabilizados apenas a partir de meados de fevereiro, foram registrados 105.102 atendimentos. Desse total, 10.553 foram para pacientes de fora do município, o que representa 10% do volume da unidade.

Foto de Yuri Scardini

Yuri Scardini

Yuri Scardini é diretor de jornalismo do Jornal Tempo Novo e colunista do portal. À frente da coluna Mestre Álvaro, aborda temas relevantes para quem vive na Serra, com análises aprofundadas sobre política, economia e outros assuntos que impactam diretamente a vida da população local. Seu trabalho se destaca pela leitura crítica dos fatos e pelo uso de dados para embasar reflexões sobre o município e o Espírito Santo.

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