A Secretaria de Saúde da Serra (Sesa) confirmou que o município registrou 82 novos casos de HIV no primeiro semestre de 2025, um crescimento de 36% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram 60 casos. Em 2023, foram 77 casos nos seis primeiros meses do ano. Os dados foram divulgados pelo Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) da cidade, que oferece gratuitamente testagem, aconselhamento e tratamento para HIV, ISTs e hepatites virais.
Apesar da ampliação da oferta de serviços e tecnologias de prevenção, como a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e a Pós-Exposição (PEP), o aumento dos casos acende um alerta sobre a efetividade da comunicação e da conscientização entre as populações mais vulneráveis.
Tratamento e prevenção
A infectologista Rubia Miossi avalia que o Brasil vive um cenário em que há oferta de tecnologias eficazes, mas ainda com baixa procura e pouca informação de qualidade circulando entre o público. “O Brasil possui gratuitamente várias tecnologias disponíveis para prevenir a transmissão do HIV. Temos o tratamento 100% gratuito pelo SUS, que garante que pessoas vivendo com HIV, em tratamento e com carga viral indetectável, não transmitam o vírus. Mas o que falta é informação. As pessoas não sabem que é possível viver com HIV e, ao mesmo tempo, não transmitir”, afirma.
A médica reforça a importância da PrEP, que consiste em um comprimido diário com antirretrovirais. “Quem toma corretamente, todos os dias ou sob demanda, não pega HIV. As falhas acontecem quando a pessoa não toma. A PrEP é quase 100% eficaz. Mas ainda é pouco conhecida, principalmente entre os jovens de 15 a 29 anos, que são os que mais se contaminam atualmente”, explica Rubia ao Jornal Tempo Novo.
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Outro recurso importante é a PEP, indicada após exposições de risco, como relações sexuais desprotegidas ou violência sexual. O medicamento precisa ser iniciado em até 72 horas, preferencialmente nas primeiras duas horas após o contato.
“A PEP funciona com um tratamento de 28 dias, com dois comprimidos por dia. É extremamente eficaz quando feita no tempo certo, mas o acesso precisa ser mais simples, especialmente nos serviços de urgência. A vítima de violência, por exemplo, vai ao pronto atendimento e deveria já sair de lá com a medicação. Muitas vezes, isso não acontece”, aponta.
Mitos e estigmas do HIV
Rubia também destaca a persistência de estigmas e desinformação. “Ainda há muitos mitos. Muita gente chama a pessoa que vive com HIV de ‘contaminada’ ou ‘soropositiva’, e esses termos são pejorativos. O correto é ‘pessoa vivendo com HIV’. E é importante dizer: quem está em tratamento e indetectável pode ter uma vida normal, trabalhar, ter filhos, manter relacionamentos. Não representa risco para ninguém”, enfatiza a médica.
A médica também alerta para os impactos da falta de educação sexual nas escolas. “Existe uma onda de conservadorismo perigosa no país, que impede que se fale de prevenção de HIV com jovens. Mas isso não impede que eles façam sexo. Só os impede de se proteger. É uma ignorância muito perigosa”, conclui.
Em nota, a Prefeitura da Serra, por meio da Secretaria de Saúde (Sesa) afirmou que o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) da Serra funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 18h, com atendimento gratuito e espontâneo. Além de testagem e aconselhamento, o centro oferece PrEP e PEP. Para mais informações, os interessados podem ligar para o telefone (27) 3338-6757.

