Serra recebeu 42 mil migrantes em 5 anos

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Serra migração

A Serra segue liderando o ranking de municípios do Espírito Santo que mais receberam novos moradores, segundo dados do Censo Demográfico 2022 do IBGE analisados pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN). O levantamento, divulgado nesta segunda-feira (11), traça um perfil detalhado da migração, que no caso da Serra é um fenômeno histórico e contínuo desde a década de 1960.

Embora o IBGE já tenha atualizado a projeção populacional da Serra para 2024 — estimada em 572.274 habitantes, número mais recente —, os dados apresentados no estudo se referem ao universo de 520.653 habitantes, utilizado como base para a análise do Censo Demográfico de 2022.

Não é novidade que a Serra seja a principal porta de entrada para novos moradores no Espírito Santo (e até para migração intermunicipal capixaba). Desde a transformação econômica impulsionada pela implantação do Porto de Tubarão, na região sul do município na década de 1960, que alterou a matriz agrícola e deu lugar a uma economia industrial, a cidade passou por profundas mudanças socioeconômicas e urbanas. Entre elas, destaca-se o fato de ser uma das cidades brasileiras que mais registraram crescimento populacional no período.

Porém, os novos dados trazem um retrato atualizado do fenômeno migratório recente, que reforça os desafios decorrentes do aumento constante da população. O estudo considera como migrantes as pessoas que não residiam no Estado cinco anos antes da data de referência do Censo (2022).

Em cinco anos, mais de 40 mil pessoas passaram a viver na Serra

Nesse intervalo de tempo, a Serra recebeu 42.454 novos moradores, número que engloba aqueles vindos de outros estados brasileiros (migração interestadual), de outros municípios capixabas (migração interna) e estrangeiros que chegaram nesse período. Trata-se do maior volume registrado entre as 78 cidades do Espírito Santo.

Para efeito de comparação, esse total é 26% superior ao de Vila Velha (33.703), que ocupa a segunda posição, e 62% maior que o de Vitória (26.069), terceira colocada no ranking. Na sequência aparecem Cariacica (13.013), Linhares (11.070) e São Mateus (10.823).

Perfil de quem veio de fora do ES: Bahia lidera

Excluindo a migração interna no Espírito Santo — ou seja, aquela que ocorre entre cidades capixabas —, o Estado recebeu, no total, 102.402 pessoas nesse período, vindas tanto de outros estados quanto de outros países. Desse total, 19.153 imigrantes se estabeleceram na Serra, o que representa 18,7% de todo o fluxo estadual. Na sequência, aparecem Vila Velha, com 17.449 imigrantes (17,0%), e Vitória, com 11.920 (11,6%), seguidas por Guarapari (5.251 – 5,1%) e Linhares (4.822 – 4,7%).

Ou seja, 2 em cada 10 pessoas que se mudaram para o Espírito Santo nos últimos cinco anos tiveram a Serra como destino. A maioria dessas pessoas veio de três estados: Bahia (33%), Minas Gerais (25%) e Rio de Janeiro (13%). Somados, correspondem a mais de 70% da origem dos imigrantes. Embora esse perfil não seja novidade, os dados dimensionam o processo recente de imigração para o município. Completam as principais origens: São Paulo (7,92%), País estrangeiro (4,41%) e Maranhão (2,17%).

Como mencionado acima, a imigração estrangeira na Serra representa apenas 4,41% do total de pessoas vindas de fora do Espírito Santo, o que equivale a aproximadamente 845 moradores que chegaram de outros países nos últimos cinco anos. Entre eles, destacam-se cidadãos oriundos dos Estados Unidos (22,99%), Portugal (22,87%), Espanha (14,45%) e Moçambique (12,56%).

No geral: mais de ¼ da população da Serra veio de fora

Todos os dados apresentados acima dizem respeito aos moradores que imigraram para a Serra nos últimos cinco anos, considerados uma espécie de “recém-chegados”. No entanto, a migração também é um fator determinante na composição geral da população do município.

Considerando o universo de 520.653 habitantes que residiam na Serra em 2022, quando os dados do Censo foram coletados, mais de ¼ da população nasceu em outros estados brasileiros. No Espírito Santo, a Serra ocupa a quinta posição entre as cidades com maior proporção de moradores não-capixabas: Bom Jesus do Norte (35,12%), Mucurici (33,47%), Pedro Canário (29,75%), Dores do Rio Preto (27,61%) e Serra, com 27,27% da população originária de outros estados. É um número expressivo: cerca de 140 mil moradores da Serra não são capixabas.

Do total da população em 2022, a maior parte é de mineiros (cerca de 11%), seguidos por baianos (9,36%), fluminenses (2,56%), paulistas (1,42%) e pernambucanos (0,31%). Essa composição contrasta com a dos “recém-chegados” dos últimos cinco anos, em que a migração baiana aparece à frente da mineira.

Serra é o maior fenômeno migratório do ES

A migração na Serra não é um elemento qualquer. A formação urbana do município — hoje a cidade mais populosa e detentora da maior economia do Espírito Santo — foi resultado de um processo diretamente ligado à migração intramunicipal e interestadual, que atraiu muitas pessoas em busca de melhores condições de emprego, moradia e segurança alimentar. Esse movimento foi impulsionado pelo acelerado processo de mudança econômica iniciado na década de 1960, com a implantação do terminal oceânico da Vale, e potencializado nos anos 1980 com a instalação da antiga CST, atual ArcelorMittal, que até hoje é, de longe, a maior empresa estabelecida na cidade.

O fenômeno migratório deu origem a bairros inteiros, como, por exemplo, Planalto Serrano. Esse crescimento se baseou tanto em ocupações regulares, via loteamentos, quanto em ocupações irregulares, que trouxeram desafios adicionais ao poder público, especialmente na mitigação dos impactos sociais. Trata-se de um processo contínuo, como evidenciam os dados mais recentes articulados pelo IJSN com base no Censo do IBGE. A migração para a Serra nunca cessou — apenas acelera ou desacelera conforme os contextos nacionais e internacionais, levando em conta a vocação exportadora do município.

Foto de Yuri Scardini

Yuri Scardini

Yuri Scardini é diretor de jornalismo do Jornal Tempo Novo e colunista do portal. À frente da coluna Mestre Álvaro, aborda temas relevantes para quem vive na Serra, com análises aprofundadas sobre política, economia e outros assuntos que impactam diretamente a vida da população local. Seu trabalho se destaca pela leitura crítica dos fatos e pelo uso de dados para embasar reflexões sobre o município e o Espírito Santo.

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