Serra emite mais gases do que Paraguai e se aproxima de SP e Rio em poluição climática

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Foto: Divulgação
ArcelorMittal

A Serra é uma das cidades que mais emitem gases de efeito estufa (GEE) na América Latina, superando até países inteiros. Os dados são do Sistema de Estimativa de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), referentes ao ano de 2023, o recorte mais recente disponível. Considerando as emissões brutas, o município aparece na 13ª posição do ranking nacional. No entanto, ao se aplicar o filtro de emissões líquidas — que considera o quanto de carbono foi absorvido por mecanismos naturais ou artificiais — a Serra sobe para o top 10 entre os municípios com maior emissão líquida do país.

A cidade emitiu cerca de 11,58 milhões de toneladas de CO₂ equivalente (CO₂e) em 2023, número que se aproxima de grandes centros como São Paulo, que ocupa a 7ª posição com 14,47 milhões de toneladas, e do Rio de Janeiro, em 8º lugar, com 13,24 milhões de toneladas de CO₂e. Aliás, comparativamente, a Serra supera em muito os dois maiores centros urbanos do país quando se considera a emissão per capita, uma vez que São Paulo tem 11,4 milhões de habitantes e o Rio, 6,2 milhões. Já a Serra tem menos de 600 mil.

Sozinha, a Serra emite mais GEE do que países inteiros, como o Uruguai (8 milhões de toneladas) e o Paraguai (10,2 milhões). A cidade capixaba está no mesmo nível de emissão que a Guiné, na África, que registrou 11,5 milhões de toneladas e tem cerca de 14 milhões de habitantes. A emissão da Serra representa ainda aproximadamente um quarto do total emitido por Portugal em um ano (48 milhões de toneladas).

GEE é a sigla para Gases de Efeito Estufa, responsáveis por reter o calor na atmosfera e manter a temperatura da Terra adequada para a vida. No entanto, o excesso desses gases, provocado principalmente por atividades humanas, tem intensificado o aquecimento global. Os principais GEE são o dióxido de carbono (CO₂), o metano (CH₄), o óxido nitroso (N₂O) e os gases industriais fluorados. O acúmulo dessas substâncias na atmosfera contribui para as mudanças climáticas, aumentando a frequência de eventos extremos como secas, enchentes e ondas de calor.

Embora a Serra esteja inserida em um problema planetário, existem efeitos locais e diretos. Os GEE estão geralmente associados a outras substâncias tóxicas, que podem aumentar os casos de doenças respiratórias (asma, bronquite, enfisema), cardiovasculares, cânceres e mortalidade precoce. Além disso, contribuem para que a cidade retenha mais calor, intensificando o fenômeno conhecido como “ilhas de calor urbanas”.

Dos 11,58 milhões de toneladas de CO₂e emitidas em 2023, o grande destaque é o setor de processos industriais, que sozinho foi responsável por 10,08 milhões de toneladas, cerca de 87% de todas as emissões do município. Isso se deve à forte presença de indústrias de grande porte, especialmente do setor siderúrgico. A Serra é responsável por aproximadamente 39,2% de todas as emissões de gases de efeito estufa do Espírito Santo.

Na sequência, o setor de energia, que inclui o consumo de combustíveis fósseis e eletricidade, respondeu por 890,6 mil toneladas. As emissões oriundas da mudança de uso da terra e floresta, como desmatamento e alterações no solo, somaram 249,6 mil toneladas. A agropecuária, com presença bem menos significativa no município, contribuiu com 40,1 mil toneladas. Por fim, o setor de resíduos, que inclui a decomposição do lixo e o tratamento de esgoto, foi responsável por 312,9 mil toneladas de CO₂e.

Esse perfil reforça o caráter altamente industrial da Serra, uma característica econômica consolidada após 1960 e potencializada nos anos 1980 com a implantação da antiga Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST). Embora a matriz econômica tenha se diversificado com o crescimento do setor de serviços, impulsionado pela logística, a indústria ainda é muito forte. E com ela vêm desafios importantes — como o abastecimento de água para uso industrial e, neste caso, a alta emissão de GEE.

Esse é um tema que a Serra precisará enfrentar nos próximos anos, especialmente diante de políticas internacionais que incentivam ou restringem o acesso a mercados com base em carbono. Isso é ainda mais relevante para a cidade, que tem forte inserção no comércio exterior. Para se ter uma ideia, no mesmo ranking de poluição climática em que a Serra está em 13º, a capital Vitória aparece na 749ª posição e Vila Velha na 809ª. Essa diferença está muito mais relacionada ao histórico de formação urbana e econômica dessas cidades do que a ações recentes de gestão municipal. Ainda assim, é um desafio concreto para a Serra.

A boa notícia é que o Governo do Estado tem se movimentado de forma pioneira nessa área. Cabe ao setor produtivo da cidade ficar atento às oportunidades. Exemplo disso é o anúncio feito neste mês pelo governador Renato Casagrande, que destinou R$ 500 milhões do Fundo Soberano para financiar projetos de transição energética e descarbonização no Espírito Santo.

São recursos disponíveis com condições especiais de crédito para que empresas invistam em tecnologias limpas e eficiência energética. A iniciativa está ancorada no Plano de Descarbonização do Espírito Santo, publicado em 2023, e se bem aproveitada, pode representar um passo nesse longo trajeto de redução das emissões de GEE na economia da Serra.

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Yuri Scardini

Yuri Scardini é diretor de jornalismo do Jornal Tempo Novo e colunista do portal. À frente da coluna Mestre Álvaro, aborda temas relevantes para quem vive na Serra, com análises aprofundadas sobre política, economia e outros assuntos que impactam diretamente a vida da população local. Seu trabalho se destaca pela leitura crítica dos fatos e pelo uso de dados para embasar reflexões sobre o município e o Espírito Santo.

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