O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) aprovou, na última quarta-feira (26), o tombamento definitivo das ruínas da Igreja de São José do Queimado, na Serra, como Patrimônio Cultural Brasileiro. O local foi palco da maior revolta de escravizados do Espírito Santo e uma das mais emblemáticas do Brasil, ocorrida em 1849.
A decisão foi tomada durante a 111ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, realizada na sede do Iphan, em Brasília. Com a aprovação, o Sítio Histórico e Arqueológico de São José do Queimado será inscrito nos Livros do Tombo Histórico e Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico.
Histórico da revolta
As ruínas da Igreja de São José do Queimado guardam a memória de uma revolta protagonizada por cerca de 300 homens e mulheres escravizados que participaram da construção do templo, motivados por uma promessa de alforria que não foi cumprida.
Durante a missa inaugural, realizada em 19 de março de 1849, os escravizados exigiram a carta de liberdade. O movimento foi liderado por Elisiário, Chico Prego, João da Viúva, entre outros. A repressão foi violenta, com condenações à morte e a fuga de parte dos envolvidos, que formaram quilombos em regiões como Roda d’Água e Retiro, nos atuais municípios de Cariacica e Santa Leopoldina.
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Elisiário conseguiu escapar da prisão e refugiou-se nas matas do Mestre Álvaro, sem ser recapturado. Já Chico Prego foi preso e enforcado em 11 de janeiro de 1850. Devido à dimensão do levante, foram necessários reforços militares vindos do Rio de Janeiro para conter a insurreição.
Critérios do tombamento
De acordo com o parecer técnico, o tombamento foi fundamentado em três pilares principais:
- Relevância histórica e arqueológica do sítio;
- Importância da visibilidade nacional da Revolta do Queimado;
- Necessidade de articulação entre políticas públicas voltadas à promoção da igualdade racial.
- A área tombada inclui as ruínas da igreja, o cemitério local e a paisagem natural do entorno, composta por árvores de médio e grande porte.
Processo envolveu a comunidade
O processo de tombamento contou com 25 rodas de conversa realizadas ao longo de 2020 entre a equipe de pesquisa e a comunidade local. Os encontros abordaram temas como religiosidade, educação, turismo, comércio, poder público, pesquisa e documentação. Todo o material resultou em um dossiê técnico que fundamentou o parecer favorável ao tombamento.
Antes do reconhecimento federal, o sítio já possuía proteção em nível estadual desde 1992 e era considerado bem de interesse de preservação pelo município desde 1990.
O presidente do Iphan, Leandro Grass, destacou o reconhecimento do patrimônio de matriz africana no país. “Já são diversos bens reconhecidos, e hoje o Espírito Santo reforça seu papel e seu lugar na história do Brasil”, disse.
Após a votação, a deputada federal Jack Rocha afirmou que a decisão representa “uma reparação histórica incalculável para a população capixaba”, afirmou ao TN.
A relatora do processo, a historiadora Alessandra Ribeiro, ressaltou que o tombamento permitirá ampliar a visibilidade da memória pública da revolta e favorecer a valorização da trajetória da cultura negra na história do Brasil.
Visitação ao local
O sítio histórico é aberto a visitas guiadas. O agendamento deve ser feito pelo site da Prefeitura da Serra clicando aqui.
O serviço atende grupos escolares, instituições e público em geral, com até 40 pessoas por grupo.

