Quebra, quebra gabiroba!

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São Benedito
O documentário alterna imagens da tradicional Festa de São Benedito e o início das obras do Complexo de Tubarão na década de 1970. Foto: Arquivo Edson Reis
A festa acontece há 174 anos na Sede. Foto: Arquivo Edson Reis

Pense em alguém animado com as festas da Serra. Eu! Responderia ao menos metade dos mais de 500 mil habitantes do município, incluído este cronista. A festa de São Benedito, então, é a minha favorita, principalmente no dia 26 de dezembro, quando é comemorado o Dia do Serrano e a capital do Estado é simbolicamente transferida para a cidade serrana. O dia começa com muito trabalho, além de missa na Matriz, para em seguida as atenções serem voltadas para a Sessão Solene na Câmara Municipal, com discursos repetidos e nem sempre sinceros. Mas o melhor está por vir. Na boquinha da noite, as ruas do Centro vão sendo tomadas pelo povo, com muitos moradores voltados apenas para a folia, mas um bom número ávido para manter suas tradições folclóricas. Enquanto aguardo o desfile, converso com moradores e visitantes. Gente animada, feito Wellington Freitas e sua Janaína; Marcos Arrébola e a sempre charmosa Ana Lúcia, além de Odmar Nascimento, Suzi Nunes e o músico Fábio Carvalho ex-Manimal. Como não poderia faltar, tem política na conversa. Um aliado aqui, um adversário ali e alguém passa gritando: “Ei, Pedro! Audifax passou por aqui. Cadê Vidigal?” Respondo: “Tá chegando!”. Outro emenda: “Ele vem mesmo?” Entendo o duplo sentido e cravo a resposta: “Com certeza!”.

Para tudo. Eis que a Avenida Getúlio Vargas é inundada por um mar de gente, tendo a frente a Banda de Congo São Benedito, na qual me integro sem pedir licença festeiro que sou. Com tambores e casacas, as músicas vão sendo cantadas e repetidas. ‘Ô quebra, quebra gabiroba/Quero ver quebrar/ Ó quebra aqui e quebra lá/ Quero ver quebrar.” A marchinha de Plínio Brito, composta em 1930, é cantada a todos os pulmões. São crianças puxadas pelos pais; jovens com suas tribos e até octogenários de passos lentos apoiados nas cordas do Palermo. Uns pagam promessas por uma graça recebida; outros, a cerveja gelada e alguns, tomados pela euforia, pagam mico. Mas ninguém liga para isso. 

Após horas de folia e reverências a Bino, avistamos a imponente Igreja matriz Nossa Senhora da Conceição. Em frente a ela, outra multidão aguarda a chegada do navio e dos “Guerreiros de São Benedito”, responsáveis pela retirada do mastro da embarcação, que será fincado ali sob uma chuva de fogos de artifícios e gritos de vitória. As bandas de congo e a banda musical Estrelas dos Artistas tocam ainda mais alto e afinado. A emoção toma conta do lugar. Entre risos estridentes e afoitos, é possível ver veios de lágrimas teimosas em faces suadas, dentre elas as minhas. É choro de felicidade pelo sentimento de dever cumprido com a história cultural e religiosa da cidade mais importante do Espírito Santo. A nossa Serra.

 

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Gabriel Almeida

Jornalista há 11 anos, Gabriel Almeida é editor-chefe do Portal Tempo Novo. Atua diretamente na produção e curadoria do conteúdo, além de assinar reportagens sobre os principais acontecimentos da cidade da Serra e temas de interesse público estadual.

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