Natural do Espírito Santo, Roni Abreu, mais conhecido como Rony Tubarão, está vivendo sua terceira tentativa de firmar-se no stand-up comedy. Policial militar, tatuador, músico e escritor, ele já flertava com o humor desde 2009, mas foi após um acidente grave em 2024 que a comédia passou a ocupar um espaço central em sua vida. Agora, com um novo olhar e meses de estudo durante o processo de recuperação, Rony volta aos palcos disposto a encarar o humor de forma profissional e consciente.
O primeiro contato com o palco veio no final dos anos 2000, no extinto Mr. Picuí, em Vitória, onde Rony participou com o grupo “Comédia à La Carte”. Sem grandes expectativas ou formação na área, ele se arriscava em apresentações curtas, que foram bem recebidas pelo público. No entanto, questões financeiras e a necessidade de estabilidade o afastaram do humor. Em 2010, ele passou no concurso da Polícia Militar e encerrou a breve incursão na comédia.
“Naquela época eu tinha que escolher entre tentar a sorte na comédia ou estudar para ter alguma estabilidade. A realidade era dura, não tinha condição de ficar bancando um hobby. Passei na PM, me formei em 2011 e segui a vida”, explicou ao Tempo Novo.
Em 2016, uma nova tentativa. Desta vez, com mais preparo e experiência de vida, Rony subiu ao palco da antiga Mercearia, em Laranjeiras, na Serra. Mas o que era para ser uma retomada se transformou em um episódio traumático. Uma crise intensa de ansiedade o afastou novamente da comédia. “Eu me preparei, escrevi texto, ensaiei. Mas quando subi no palco, tive uma crise de pânico. Foi uma sensação de vergonha, insegurança, incapacidade. Saí dali decidido a nunca mais passar por aquilo. Enterrei qualquer ideia de seguir nesse caminho”, comentou.
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Acidente e volta aos palcos
A virada de chave aconteceu em maio de 2024, quando sofreu um acidente de moto após sair de serviço. A queimadura grave na perna esquerda exigiu cirurgias e um longo período de recuperação. Rony ficou afastado por quase um ano e foi nesse tempo, entre dores e tratamentos, que decidiu voltar à comédia, focando em se profissionalizar.
“Eu fiquei quase um ano inválido. Senti dor todos os dias, foi um processo lento e difícil. Nesse tempo, comecei a assistir a muitos shows, estudar humor de verdade, entender técnica, ritmo, estrutura. Não foi algo romântico, foi uma decisão racional: se eu ia ficar parado, então ia usar aquele tempo para me preparar de verdade”, garantiu.
Diferente de muitos iniciantes, ele não se vê como alguém naturalmente engraçado. Aposta na técnica, no estudo e na prática. “Eu sou técnico. Não fico esperando ter ideias geniais. Abro o WhatsApp, gravo áudios para mim mesmo com qualquer bobagem que vier à cabeça. Depois escuto, lapido, reescrevo. Uso papel e lápis porque não quero me apegar a nenhuma frase. E passo muito tempo em silêncio. Acho que o cérebro precisa de silêncio para lembrar das coisas engraçadas”, explicou.
Apesar de ainda atuar como policial, evita usar essa vivência no palco por enquanto. Porém, reconhece que a vivência policial gera histórias com potencial para virar material no palco. “Não criei nada ainda com intuito cômico sobre a polícia. Eu ainda estou me definindo e descobrindo como será minha persona. Mas não quero limitar num nicho específico, já tenho ótimas ideias de como criar uns textos engraçados envolvendo histórias divertidas que vivenciei na PM”, ressaltou.
Sobre a cena capixaba, Rony é realista. Ama o estado, mas sabe que o tamanho do público e a estrutura ainda são limitadores para quem quer viver de comédia. Ele vê com bons olhos o surgimento de bares e produtoras voltadas para o humor, mas entende que crescer nacionalmente exige sair do Espírito Santo.
“O Espírito Santo tem 4 milhões de pessoas, é muita gente. Mas quando você compara com o Brasil inteiro, é menos de 2% da população. Isso dificulta sustentar uma carreira só aqui. O público se esgota rápido, e o artista precisa de renovação constante. Por isso que quem cresce acaba indo pra fora”, comenta. Ele cita nomes como Renato Albani e Lara Santana como exemplos de capixabas que romperam as barreiras locais e hoje atuam em escala nacional.
Rony completando falando sobre o recebimento de convites para se apresentar fora do estado e planeja viagens para São Paulo e Rio ainda em 2025. A ideia é testar textos em “open mics” e começar a expandir sua rede. Paralelamente, trabalha na criação de um show solo, com duas versões: uma mais regional e outra pensada para o público nacional.
“Quero ter um solo pronto até o fim do ano. Tô testando material, escrevendo, buscando espaço para me apresentar. Não fico sonhando com fama ou sucesso. O foco é escrever bem, entregar um bom show, fazer as pessoas rirem. Se der certo, ótimo. Se não der, continuo tentando”, finaliza.

