A bancada do PDT na Câmara Federal decidiu, nesta terça-feira (6), deixar oficialmente a base do governo Lula. Em se tratando da Serra, trata-se do partido dos dois principais líderes políticos da cidade, que são justamente os dois maiores nomes do PDT no Espírito Santo: o ex-prefeito e atual secretário de Estado, Sérgio Vidigal e o atual prefeito Weverson Meireles.
Com 17 deputados federais, o PDT tomou a decisão de se afastar do governo apenas quatro dias após o então ministro da Previdência, Carlos Lupi, pedir demissão. Embora Lupi não tenha sido diretamente relacionado ao escândalo, a saída ocorreu no contexto das denúncias de descontos irregulares nos benefícios de aposentados do INSS — o que gerou forte desgaste político.
O líder do partido na Câmara, deputado Mário Heringer (MG), afirmou que o PDT não migrará para a oposição, mas passará a atuar como “independente”. Segundo ele, a decisão não se trata de uma retaliação pela saída de Lupi, mas a crise envolvendo o INSS foi a gota d’água para o rompimento com o governo.
Historicamente, em âmbito nacional, PDT e PT são aliados, embora tenham divergido em momentos pontuais. Já no Espírito Santo, a relação entre o partido de Vidigal e os petistas é marcada por embates e conflitos — com exceção, talvez, da capital Vitória. Na Serra, principal reduto político do PDT desde 1997 — e até antes, com o ex-prefeito Nally Miranda —, a relação entre as siglas sempre tem sido tensa ou francamente conflituosa.
Embora o PT já tenha integrado a base de Vidigal em seus primeiros mandatos, desde 2012 a sintonia entre os partidos praticamente desapareceu. Naquela eleição, o PT apoiou Audifax Barcelos, então no PSB, indicando Lourência Riani como vice. A chapa venceu Vidigal, impondo-lhe uma derrota emblemática. Quatro anos depois, Vidigal revidou: como deputado federal, foi um dos 367 parlamentares que votaram a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Desde então, PDT e PT nunca mais marcharam juntos na Serra. Em 2021, já no início do quarto mandato de Vidigal como prefeito, o diretório municipal do PT chegou a publicar uma carta aberta criticando decisões da gestão, acusando o prefeito de adotar posturas alinhadas à direita conservadora.
Mais recentemente, nas eleições de 2024, o então candidato Weverson Meireles causou constrangimento ao recusar publicamente o apoio do PT no segundo turno, aprofundando o desgaste entre as legendas. Ainda que a relação com o PT seja marcada por idas e vindas, Weverson não é o tipo de político que patrocina disputas ideológicas. Na verdade, ele costuma evitar esse tipo de debate, preferindo focar em temas locais e adotar uma abordagem mais pragmática, voltada para as questões do cotidiano da população.
Eleição de 2026
Agora, com o afastamento formal da bancada pedetista do governo Lula, o cenário ganha novos ingredientes para a eleição de 2026.
Isso porque o PDT está entre os partidos cotados para compor a linha de sucessão do governador Renato Casagrande (PSB) — seja como aliado de chapa ou até mesmo com candidatura própria ao Governo do Estado.
No plano nacional, a saída do PDT da base de Lula representa mais uma fissura no apoio político do governo em meio a uma crise crescente. Pesquisas recentes indicam que a desaprovação do presidente Lula atingiu o maior patamar entre seus três mandatos. No Espírito Santo, ainda não há clareza sobre o posicionamento do partido, mas o lançamento de uma candidatura própria ao Palácio Anchieta é uma possibilidade real.