Os pescadores da Serra que tiram o sustento do mar estão apreensivos quanto à chegada do óleo que devasta as praias do Nordeste e se desloca em direção ao Espírito Santo. As manchas mais ao sul foram identificadas na cidade baiana de Ilhéus – em linha reta, a cerca de 400 km do ES e a 600 km da Serra –, mas a Marinha já monitorava, ontem (24), a região do Parque Marinho de Abrolhos, cujo entorno é o principal pesqueiro dos profissionais serranos.
Presidente da Federação da Associação de Pescadores do Espírito Santo, Manuel Bueno dos Santos, o Nego da Pesca, disse que os pescadores não receberam orientações e sequer foram acionados para ajudar a fazer o trabalho de sentinela. Segundo Nego, que também é morador e pescador de Jacaraípe, a situação é de desastre e a chegada do óleo ao ES é iminente.
“São de 500 a 600 pescadores profissionais só na Serra, o que dá perto de três mil famílias dependentes da atividade. Mas há os empregos indiretos gerados nas peixarias, supermercados, atravessadores, feirantes, postos que vendem diesel para barcos, mecânicos de barcos. É muita gente que será afetada. Fora a destruição da natureza, que é de onde tiramos nosso sustento”, explica Nego.
O presidente informou, também, que no litoral do ES há 10 mil pescadores que trabalham no mar e manguezais e podem ser atingidos. O secretário de Aquicultura e Pesca do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Jorge Seif Júnior, declarou à Agência Brasil, na última terça-feira (22), que será liberada parcela extra de seguro-defeso para pescadores afetados. O seguro é de R$ 998. Até à tarde de ontem (24), ainda não havia informação se a medida poderá beneficiar pescadores da Serra e demais cidades capixabas.
Doutor do Departamento de Oceanografia da Ufes, Renato Ghisolfi disse, na última quarta-feira (23), que é difícil precisar quando o óleo chega ao estado, ou mesmo se irá chegar. “Há uma corrente marítima que vem de Salvador (Bahia) em direção ao ES. A água gasta, em média, 15 dias para fazer o trajeto. Mas o óleo tem características diferentes, não viaja na mesma velocidade”, explica.
Renato acrescenta que faltam dados sobre o volume derramado e a origem, o que junto às variáveis do ambiente marinho torna mais complexo o acompanhamento. Mas considera imprescindível o monitoramento por parte das autoridades capixabas. Por fim, diz que o óleo é especialmente danoso em ambientes de corais e manguezais, onde é muito difícil – senão impossível – remover o poluente. Por isso, a recuperação do ecossistema pode levar anos.
Espírito Santo pede ajuda ao Exército
No início da noite de ontem (24), a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama) informou, pela assessoria de imprensa, que já articula com o 38º Batalhão do Exército ajuda para eventual limpeza das praias do ES. Disse que um representante do órgão irá nesta sexta (25) à Bahia para acompanhar o trabalho de limpeza e que está em curso uma capacitação de servidores de cidades do norte capixaba para atuar na limpeza, caso o óleo chegue.
Na última segunda-feira (21), o Governo do Estado criou um Comitê de Preparação de Crise, com representantes da Marinha, doIbama e doICMBio, sob coordenação da Seama. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Serra (Semma) informou, pela assessoria de imprensa, que já pediu para a Seama participar do Comitê.
Até à noite de ontem (24), a contaminação constatada desde 30 de agosto já havia atingido 223 praias nos nove estados do Nordeste. Mais de mil toneladas de material foram removidas. A substância é petróleo cru e é tóxica. Inclusive, já provocou problemas de saúde em pessoas que estão atuando na limpeza.